Nós, portugueses, não somos
santos. Conhecemos os nossos defeitos. Podem apontar à maioria de nós, sem
grande risco de errar, a nossa propensão colectiva para a hipocrisia, a
venalidade, a corrupção, a inveja, a maledicência e a ostentação. Gostamos de
favores e de cunhas, mas depois somos ingratos. O escárnio e o maldizer são,
desde há muito, desportos nacionais. Tendemos a ser clubistas e rancorosos.
Gostamos de viver o dia a dia de forma imprudente, sem pensar muito no amanhã.
Não somos frugais nem dados à poupança. Temos também uns quantos genes que são
avessos à organização e ao planeamento, donde acabarmos por cair tantas vezes no
mero desenrascanço e nas coisas feitas em cima do joelho. Por insinceridade ou manha,
gostamos às vezes de nos fingir de tolos e até aceitamos cordatamente que nos
tomem por ingénuos. Deixamos amiúde que espezinhem os nossos direitos e convicções,
só para não nos chatearmos. Não intercedemos pelos outros quando mais seria
necessário, para evitar problemas ou incómodos. Adoramos fugir ao fisco e a
outros deveres contributivos. Somos coscuvilheiros, indisciplinados, metediços,
parciais e deslumbrados. Somos tudo isso. Mas racistas?... Alto aí e pára o
baile.
Racistas é que, de um modo geral,
não somos, ainda que nos dêem motivos de sobra para sê-lo. Existem alguns por
aí, aceitemos, como em qualquer parte do mundo, mas esse não é um traço que colectivamente
nos defina. Desculpem os exaltados e os fanáticos, mas não é. Para quem queira
raciocinar um pouco e ver o óbvio, há muitas coisas à nossa volta a
demonstrá-lo. E atestam-no não só o nosso passado como o nosso presente, não só
o nosso lastro cultural como os nossos costumes brandos.
Nenhum povo se enraizou com tanta
facilidade em tantas partes do mundo, misturando-se e entrosando-se com as
gentes locais. Dos cerca de quinze milhões de portugueses que hoje
provavelmente somos, um terço vive disperso na diáspora, e as nossas
comunidades não são problemáticas em lado nenhum. Por isso nos aceitam bem em
toda a parte, mesmo nos países que querem desfazer-se de outros fluxos de
imigração.
Há muitos séculos que nos
habituámos à diversidade étnica e à miscigenação. Até as nossas colonizações
nos vários continentes se distinguem bem das alheias, e não apenas por serem
mais antigas ou mais longas. Nenhum outro povo pós-medieval criou uma tão ampla
mestiçagem de raças e culturas, nem promoveu tão afincadamente as uniões e os
casamentos mistos. Nenhum outro deu aos indígenas, segundo os horizontes de cada
época, tantas oportunidades de instrução e de ascensão social, por muito que
tudo pareça insuficiente segundo os critérios enviesados de hoje. Porque todas as
coisas têm de ser vistas e julgadas, antes de mais, segundo os critérios do seu
próprio tempo e lugar, ainda que os ignorantes não percebam isso.
Acusam-nos de termos cometido
abusos enquanto conquistadores e colonizadores? Sim, é inegável. Mas que teve isso
a ver com mero racismo? Também os cometemos em abundância contra os da nossa
própria raça, não só em perseguições religiosas e guerras civis, como na
estratificação social e nas práticas do quotidiano. Até há menos de um século
atrás, quase todas as sociedades do mundo foram bastante cruéis, a desumanidade
foi a regra. Barbaridades e injustiças foram sempre “fruta da época”, porque as
mentalidades as assimilavam e legitimavam. Quem foi excepção? Pela parte que
nos toca, até o nosso Eça já escrevia há século e meio que Portugal era a “pátria
dos abusos” (e em muitos aspectos, lamentavelmente, ainda não deixou de o ser).
Mas onde é que havia menos discriminação racial do que entre nós, segundo os
padrões dominantes em cada época? E por que querem agora espicaçar-nos com o
estigma do racismo, a não ser por oportunismo velhaco ou para colher dividendos
indevidos?
Até à chegada dos europeus, e
muito depois dela, as etnias e as tribos africanas ou ameríndias sempre se
degladiaram e chacinaram, escravizaram os capturados e sujeitaram-nos a toda a
espécie de torturas e maus tratos, sem excluir o canibalismo. Muito antes de os
europeus se atreverem a aventurar-se pelo interior da África subsariana, já os
escravos negros eram trazidos para a costa e vendidos, a troco de
quinquilharias, por outros negros de etnias ou tribos rivais. A escravatura no
interior do continente africano foi uma prática tradicional de negros contra
negros, desde tempos imemoriais, e só depois também dos sucessivos
colonizadores. Quem não conhece a história de África que a estude, se duvidar.
O que os comerciantes europeus e árabes lhe acrescentaram foi sobretudo o
comércio intercontinental dos escravos, através do Atlântico ou do Índico, muito
mais do que as capturas adicionais, que também existiram, mas que implicavam
custos e riscos desnecessários. E os africanos e afrodescendentes, muitos
deles completamente ignorantes da sua própria história ancestral, vêm agora
pedir-nos contas pelos tempos de escravatura? O que seria ainda hoje a África, se
não tivesse havido a colonização europeia? E aliás, o que é ainda hoje a África,
muitas décadas depois da descolonização?
Eu vivi algum tempo em África,
como professor cooperante, e por lá visitei diversos e variados países, desde a
orla mediterrânica até ao sul de Angola. Pude sentir e experimentar, ao vivo e
a cores, o racismo dos negros contra os brancos. Fui vítima dele e teria muito
que contar. Mas também presenciei o racismo que existe entre árabes e berberes,
entre negros e mulatos, e por mais incrível que pareça, entre os próprios
negros de diferentes etnias. Os africanos distinguem ao milímetro os
diversos tons de pele, os diferentes graus de mestiçagem, e por muito que às
vezes o neguem ou disfarcem, os seus costumes são profundamente discriminatórios
em relação às várias pertenças étnicas. Por mais que se misturem nos
aglomerados urbanos, não há simbiose. E para além das rivalidades tradicionais,
é frequente que se detestem e se evitem mutuamente. É uma coisa visceral, que
tem a ver com as culturas locais e a sua segmentação. Mas há agora quem,
vindo de qualquer dessas paragens, se ache no direito de nos lançar imprecações
por causa de um alegado “racismo estrutural” que alguns idiotas e iluminados
julgam descobrir na sociedade portuguesa? Tenham dó… Não há paciência.
Temos entre nós chineses,
indianos, paquistaneses, bengaleses, árabes, judeus, turcos, iranianos, nepaleses,
ucranianos e outros eslavos, latino-americanos, tailandeses, timorenses e uma
miríade de outras nacionalidades. Não há notícia de conflitos raciais com eles,
não obstante os casos de polícia que possam ocorrer. Temos europeus das mais
diversas proveniências e, com excepção de uma nacionalidade específica, também
com eles não há atritos étnicos, apesar dos episódios de hooliganismo no
futebol ou das bebedeiras de turistas que às vezes descambam em distúrbios. Não
vale a pena tapar o sol com a peneira: os crónicos problemas étnicos que temos
são sempre com os mesmos segmentos da população e todos sabemos quais são. E digamo-lo
sem papas na língua: tem tudo a ver com a alarvidade ou o parasitismo com que
se comportam, com a frequência com que nos agridem ou nos ameaçam, com o modo
como nos assediam ou nos intimidam com os seus comportamentos de bando, com os estragos
ou imundícies que provocam, com os furtos ou abusos que cometem, com o medo e
insegurança que nos causam. Sem isso
seriam, aos nossos olhos, pessoas como outras quaisquer. Somos aplaudidos
no mundo pela nossa hospitalidade e por tratarmos bem os estrangeiros, ao
contrário de muitos outros povos que os abominam e hostilizam ou que os tratam
com reserva e rudeza. Somos bons anfitriões. Os turistas de todo o mundo gostam
de nós. E somos racistas?... Não, somos até bastante tolerantes, muito mais do
que deveríamos ser.
Não deveríamos tolerar, de
modo algum, que haja comportamentos étnicos bem característicos que atentam
contra os nossos valores fundamentais ou contra as nossas noções básicas de
civismo e cidadania. Não deveríamos tolerar, por exemplo, os casamentos infantis
forçados nas famílias ciganas, nem o seu incumprimento generalizado da
escolaridade obrigatória, muito menos a proibição de as raparigas frequentarem
a escola. Não deveríamos fechar os olhos à mutilação genital das meninas nas famílias
de certas origens africanas. Não deveríamos permitir impunemente que jovens
afrodescendentes nos espichem sistematicamente as fachadas dos prédios logo
após os condomínios terem gasto fortunas em obras de conservação exterior. Não
deveríamos tolerar que nos vandalizem os equipamentos públicos, os monumentos
ou as estátuas. Deveria haver tolerância zero para criminalidade violenta ou
reincidente, para condução sem carta e sem seguro, para desobediências crónicas
às nossas polícias e aos nossos tribunais. Já basta termos de lidar com os
nossos próprios delinquentes, que por serem portugueses são um encargo nosso,
não de outros. Mas os estrangeiros ou naturalizados que não acatam a autoridade
do nosso Estado ou das nossas leis não têm que cá continuar, e expulsá-los não
é racismo nem xenofobia, é mera justiça. É até mais do que isso: é uma questão
de civilização.
Apesar de toda a nossa
tradição de convivência racial, confesso que não gosto de “pretos” nem de “ciganos”.
E isto não tem nada a ver com a cor da pele, com a origem geográfica ou com as
tradições inócuas de cada comunidade. Um negro ou um mulato civilizados para
mim são tão “brancos” como eu. Mas um vândalo branco para mim é “preto”, porque
se comporta como tal. Ser “preto” não é uma questão de raça ou de pigmento, é
um nível de conduta. É um atributo de selvajaria, de subdesenvolvimento, de
imundície, de indigência cultural. Assim como ser “cigano” é sinónimo de
velhacaria, de burla, de esperteza saloia, de falta de escrúpulos. Se alguém
tem culpa destas designações são, em primeiro lugar, os costumes das
comunidades que lhes deram origem. Porque o que está em causa não é a cor da
pele, é a cor dos comportamentos; não é a etnia, são os costumes intoleráveis. E
quem quer confundir as coisas é parvo, ou faz-se.
Mais de oitocentos mil
portugueses, talvez quase um milhão, foram escorraçados ou tiveram de fugir das
ex‑colónias africanas, nos idos anos setenta, e mais uns largos milhares foram
expulsos da Índia Portuguesa, descartados em Timor-Leste ou substituídos por
chineses em Macau devolvido. Apesar disso, hoje acolhemos toda a gente, apesar
dos ressentimentos residuais que ainda possa haver. Deixamos africanos,
indianos, timorenses e chineses virem para cá morar, trabalhar, estudar, estabelecer-se,
sem grande filtragem e com pouco controlo. Se tantos vêm para cá é porque têm muito
mais oportunidades aqui do que nos seus países de origem, não é certamente por
masoquismo. E decerto são melhor tratados aqui do que o são lá os portugueses,
inclusivamente em termos de protecção social. E ainda nos acusam de racismo?
Os novos graffiti incitam-nos
também a “descolonizar”. Mas então não o fizemos já? Os principais vestígios
que sobram do nosso colonialismo não são decerto as nossas estátuas e monumentos,
que enquanto nação temos todo o direito a manter e preservar porque fazem parte
da nossa história, mas as hordas de imigrantes vindos dos vários países de
expressão portuguesa, atraídos pelas facilidades proporcionadas pela língua
comum que lá deixámos e pelo muito melhor nível de vida que encontram aqui. É óbvio
que, sem a nossa colonização, a esmagadora maioria deles nunca teria posto cá
os pés. Se quiséssemos ir até às últimas consequências da descolonização,
deveríamos pois recambiá-los para a sua terra de origem, como consequência
lógica. É isso que pretendem? Até porque agora são eles que pretendem colonizar‑nos a nós, e
estão a consegui-lo rapidamente através da demografia, pela tripla via da
natalidade, do descontrolo migratório e das obtusas leis de reagrupamento
familiar. Ora, pelas notícias eloquentes que nos vão chegando dos seus
países de origem e pelas misérias que lá se vivem, um país europeu ser tão
rapidamente colonizado por africanos e brasileiros e timorenses não é de todo
uma boa ideia. Pelo andar actual da carruagem, e no que toca ao grau de civilização,
não sei se eles se irão aproximar lentamente de nós, mas tenho a certeza que
nós iremos rapidamente aproximar-nos deles. Para uma cultura subir de nível,
tem de lutar contra a força da gravidade; mas para descer, todos os santos
ajudam.
Se há africanos ou
afrodescendentes incomodados com o acolhimento que recebem aqui, ou com as oportunidades
de que desfrutam, é justo lembrar-lhes que há alternativas. Não faltam outros
países, outros continentes, incluindo o das suas origens. E a nossa resposta coerente
só pode ser uma: quem está mal, mude-se. Este não é um conselho racista nem
xenófobo, pois é o mesmo que os próprios portugueses sempre usaram entre si.
A verdade é que já lhes proporcionamos muito mais do que alguma vez eles a nós.
Mas não estamos dispostos a dar para o peditório dos privilégios às minorias
étnicas, da discriminação positiva, das quotas raciais, dos subsídios de
compensação ou das indemnizações pelo nosso “abominável” passado colonial. Queremos
mesmo é viver numa sociedade de iguais, partilhando uma cultura essencial comum,
agregados por um sentimento de pertença e solidariedade. Oportunistas, parasitas,
vândalos e arruaceiros não nos fazem falta.
Pela minha parte, tenciono por
enquanto continuar a não ser racista nem xenófobo, e espero nisso persistir, mas
ponho três condições a prazo. A primeira é que não tenha de continuar a presenciar
a quase total impunidade de tantos comportamentos e artimanhas próprios de “pretos”
ou de “ciganos”. A segunda é que não continue a ver o nosso governo a tratar
imigrantes ilegais com mais esmero e preocupação do que os concedidos aos
portugueses mais carenciados, desde os idosos aos sem-abrigo. E a terceira é
que não se continue a dar de bandeja a nacionalidade a todos os arrivistas que
só querem um salvo-conduto para a Europa, uma facilidade adicional para as suas
negociatas ilegais ou um pretexto para trazerem atrás de si um batalhão de
familiares verdadeiros e falsos, como autênticos traficantes de gente.
Caso contrário, se tais condições não se cumprirem, poderei vir a mudar de opinião. Talvez me torne
selectivamente racista e xenófobo, tal como muitos outros portugueses que não
estão para aturar mixórdias e barafundas, ameaças, agressões, pilhagens,
tumultos, vandalismos e delinquência a granel. Em suma: que querem viver em paz
e segurança.
Como é evidente, as simples aversões pessoais, quando somadas, podem tranformar-se em grandes problemas colectivos. Os nossos ministros e os anti-racistas
de serviço que pensem bem no assunto, ou as coisas poderão vir a não correr bem
no futuro. Tal como já não correm em outros países, europeus e não só. A
experiência deles deveria servir-nos para alguma coisa. E uma das conclusões a
tirar é que o multiculturalismo tem os seus limites.
Claro tudo isto nós sabemos não existe á flor da terra ser humano mais rascista que o proprio negro eles são rascistas para com uns para com os outros e a nós eles odeian-nos só não compreendo odeando-nos como nos odeiam porque não restam nos seus Países Africanos uns com os outros???'
ResponderEliminarFaco minhas as palavras aqui escritas. Parabens. Esta e a verdadeira VERDADE! Tenho pena de que o povo portugues esta cada vez mais ignorante. Leiam a Historia
ResponderEliminarSó alguém com total independência seria capaz de escrever, com verdade, sobre o tema mais badalado da actualidade portuguesa, uma verdade que é do conhecimento de políticos e governantes mas que não têm coragem de a difundir. Vivi em África e convivi com brancos, negros e mestiços sem nunca pensar na palavra "racismo". Aqui em Portugal, está-se a ultrapassar uma perigosa linha vermelha que pode causar graves consequências. Há grupelhos interessados em alimentar o ódio e o racismo para poderem manter os seus tachos. É gente que não vale um caracol e que devia ser posta em sentido por quem de direito, mas infelizmente, esses, estão calados que nem ratazanas. Aqueles que denunciam o racismo são os verdadeiros racistas. Precisamos de governantes que acabem com esta palhaçada.
ResponderEliminarParabéns pelo seu artigo. Gostei do que li.