domingo, 31 de outubro de 2021

Alterações climáticas: ANTES DO PREVISTO

Para todos os que se preocupam com as consequências das alterações climáticas, já não é segredo que as metas do Acordo de Paris de 2015 não serão cumpridas. É isso, aliás, que revela o último relatório das Nações Unidas sobre o assunto, expondo um ritmo de aquecimento global mais rápido que o previsto e em franco processo de aceleração. A situação é alarmante e tornou-se óbvio que vai piorar.

O mencionado Acordo de Paris tinha estabelecido como limite a não ultrapassar um acréscimo de temperatura média global de cerca de 1,5ºC em comparação com o período pré-industrial. Ora, pelos dados agora disponíveis, já se antevê que tal limite seja atingido, e talvez até ultrapassado, já no final da presente década ou pouco depois, isto é, bem mais cedo que em todas as previsões anteriores.

Embora os líderes mundiais se tenham comprometido a evitar a todo o custo ultrapassar esse limite, é agora evidente que foram promessas vãs e que não houve empenho suficiente. A maior parte das proclamações feitas foram ditadas pela conveniência política, alimentadas pela retórica de campanha e desproporcionais em relação às decisões tomadas, que ficaram muitíssimo aquém do necessário. Poucos terão verdadeiramente compreendido a importância e a urgência do problema.

Enquanto os especialistas se debatem com cenários futuros incertos, os governos hesitam nas medidas a tomar, receosos de afetar as respetivas economias e de enfraquecer a sua própria sustentação política. Climaticamente, estamos numa emergência grave e terrível, capaz de nos mergulhar muito em breve em desastres sem precedentes. Politicamente, estamos atolados em múltiplos jogos de interesses e lideranças débeis. É de recear o pior.

Os planos atuais para ir fazendo pequenas mudanças graduais e cautelosas, mesmo que passem todos das boas intenções e se tornem realidade, vão conduzir-nos à catástrofe. A razão disso é de natureza física e matemática: não se pode deter um fenómeno que está em aceleração crescente com medidas apenas moderadas e graduais. Já no curto prazo, são necessários cortes drásticos e rápidos da poluição global, e em especial das emissões de gases com efeito de estufa, mas nem isso será suficiente para deter o curso das alterações climáticas. Não é demais insistir que precisamos rapidamente de novas tecnologias capazes de capturar e armazenar carbono, tecnologias essas que é preciso financiar e desenvolver com a maior urgência possível. A elas, muito provavelmente, terão de se juntar em breve soluções de geoengenharia.

O rápido aquecimento do planeta já está a acelerar o aumento do nível dos mares, a provocar um degelo intenso em vastas extensões e a agravar fenómenos extremos com grande poder destruidor, como ondas de calor, secas, inundações, tempestades e furacões. As consequências económicas destes fenómenos são por vezes, nalguns locais, de molde a abalar economias e a empobrecer sociedades inteiras, deixando atrás de si um rasto de morte e devastação; e nos casos mais benignos, podem implicar uma redução severa do rendimento médio per capita. Até há pouco tempo, as regiões mais desenvolvidas do mundo julgavam-se a salvo das suas piores repercussões, exceto ocorrências excecionais. Os acontecimentos recentes têm demonstrado que não é assim e que a destruição continuada e em larga escala pode atingir também, de forma reiterada, os países prósperos. Nenhum estará a salvo de uma desordem climática generalizada.

Se nada de substancial se fizer, o aquecimento global continuará em aceleração crescente e é bem provável que se atinja, já na década de quarenta, um acréscimo de 2ºC em relação aos tempos pré-industriais. Parece pouco, mas meio grau de aquecimento importa e muito. Segundo algumas estimativas, a população global exposta a ondas de calor extremo mais do que duplicará; o degelo no Ártico, e provavelmente noutras regiões, poderá tornar-se cerca de dez vezes mais intenso e o nível dos mares subirá mais 6 a 10 centímetros; duplicará a extinção de vertebrados e de plantas e triplicará a extinção de insetos; a percentagem da área do planeta cujos ecossistemas se transformarão noutro bioma (envolvendo alterações no seu macroclima, na cobertura vegetal e nas características dos solos) quase duplicará também; a quantidade de “permafrost” (isto é, de gelo permanente e de solo congelado) que irá derreter agravar-se-á em mais de um terço; quase na mesma proporção se agravará o declínio dos recifes de corais e da vida marinha a eles associada; a produção agrícola de certas culturas, bem como as pescas, poderão decair para cerca de metade em muitos locais, sobretudo nas baixas latitudes. De facto, meio grau a mais de aquecimento global faz muita diferença, sobretudo se tivermos em conta que esse aquecimento não é homogéneo, nem do ponto de vista temporal nem do ponto de vista geográfico, e irá concentrar-se dramaticamente em certos períodos e regiões.

Que consequências pode isso ter para as populações? A mortalidade e os problemas de saúde devidos a fenómenos climatéricos extremos aumentarão; as probabilidades de seca ou de escassez de água tornar-se-ão maiores; chuvadas fortes e enchentes serão mais frequentes; a menor quantidade de gelo no planeta reduzirá a reflexão dos raios solares e implicará maior absorção de calor, gerando impactos na circulação oceânica e nos climas regionais; a contínua elevação do nível do mar aumentará a erosão costeira, assim como a perda de praias e de território litoral, e trará um risco acrescido de enchentes e um maior potencial de estragos; o desaparecimento ou rarefação de espécies terrestres e marinhas prejudicará cadeias alimentares, atividades económicas e meios de subsistência; a alteração dos solos e da cobertura vegetal terá vasto impacto nas economias locais e na interação entre estas; a transformação dos macroclimas implicará a inadequação de muitas formas tradicionais de habitação, bem como a necessidade de adaptação de edifícios e infraestruturas, com custos bastante onerosos; e os riscos de escassez de alimentos serão maiores, bem como os riscos de epidemias, incêndios florestais e propagação de pragas. No somatório total, isto envolve transformações enormes que precisariam de muitas décadas para uma adaptação gradual e minimamente organizada. Mas se tais transformações se concentrarem num espaço de tempo relativamente curto, de apenas uma década ou duas, têm um considerável potencial de caos e sofrimento humano, para já não falar de um possível recuo civilizacional em muitas regiões menos apetrechadas para mudanças tão drásticas. O risco de guerras e conflitos violentos não é sequer de descartar.

Os comentadores e os analistas destas matérias têm muitas vezes uma visão parcial e atribuem reiteradamente o aquecimento na Terra às emissões de certos gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono e o metano. Mas há outros culpados. Os gases de refrigeração correntes (largamente utilizados em aparelhos de ar condicionado, arcas congeladoras e frigoríficos) têm um potencial de aquecimento global 23 mil vezes maior do que o dióxido de carbono e permanecem na atmosfera durante 50 mil anos. Atualmente a quase totalidade desses gases é libertada quando esses aparelhos atingem o seu fim de vida, o que põe em evidência a importância da reciclagem, ainda muito pouco utilizada devido à falta de incentivos. De facto, muitas pessoas e empresas retiram o cobre dos equipamentos em fase terminal e libertam todo o gás para a atmosfera. Embora tais emissões sejam em geral proibidas, a falta de fiscalização ou de multas leva a incumprir os regulamentos existentes. As consequências são trágicas e contraproducentes para os esforços em curso. De facto, se conseguirmos evitar a emissão de 23 mil toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera, mas lançarmos nela apenas uma tonelada destes gases de refrigeração (chamados “gases fluorados”), ficamos mais ou menos na mesma. Não haverá progresso na redução de emissões, no que respeita às suas consequências térmicas. Ora estima-se que, devido ao aumento generalizado das temperaturas, a procura mundial de energia para aparelhos de refrigeração triplique até 2050 e a produção e substituição destes sofra um grande incremento, o que torna ainda mais dramático o problema da recuperação e reciclagem dos gases fluorados no fim do ciclo de vida dos equipamentos.

Algo idêntico se passa com outro gás que intensifica o efeito de estufa, o óxido nitroso, que tem ainda a particularidade de ser o que mais contribui para degradar a camada de ozono. Tem várias aplicações na indústria e é também um dos produtos resultantes da queima de combustíveis fósseis ou de biomassa, mas a agricultura intensiva é de longe a maior responsável pela emissão anual, em resultado da produção e aplicação de fertilizantes sintéticos em larga escala. A pecuária e a aquicultura contribuem para o problema devido à crescente procura de rações para animais e os esgotos e seu tratamento também são uma fonte de emissões, assim como a má gestão do estrume animal e dos lixos e desperdícios. Embora exista em menor quantidade na atmosfera que o dióxido de carbono, este gás tem uma capacidade de retenção de calor 300 vezes superior (ou seja, uma molécula de óxido nitroso é equivalente a 300 moléculas de CO2 nos seus efeitos térmicos) e permanece por mais de um século na atmosfera até ser degradado naturalmente pela radiação solar. Mas como as atividades humanas estão a emiti-lo muito mais depressa do que ele é destruído, está a acumular-se perigosamente há décadas. Apesar dos esforços mundiais para reduzir as emissões industriais deste gás, várias economias emergentes estão a aumentar rapidamente as suas emissões por outras vias — nomeadamente o Brasil, a China e a Índia, onde a produção agrícola e a criação de gado têm aumentado muito rapidamente desde finais do século passado.

O enorme perigo que espreita nestes factos é a crescente probabilidade de as medidas adotadas para reduzir as emissões mundiais de dióxido de carbono, que é a ameaça de que mais constantemente se fala, serem em larga medida contrabalançadas (ou até neutralizadas nos seus efeitos práticos) pelas crescentes emissões de outros gases com um efeito de estufa bastante superior, como é o caso do metano, dos gases fluorados e do óxido nitroso. Se quisermos desenvolver estratégias eficazes para mitigar a poluição, limitar o aquecimento global e cumprir as metas climáticas, teremos de desenvolver tecnologias eficazes que nos permitam recuperar e reciclar esses outros gases ou ajudar a degradá-los em substâncias inofensivas.

Mas o prognóstico é reservado: se nem mesmo as emissões globais de dióxido de carbono pararam ainda de crescer, é de esperar que a indústria e as atividades agropecuárias sejam mais bem sucedidas na limitação dos outros gases com maior efeito de estufa e onde as atenções incidem menos? Sem gigantescos incentivos financeiros e regulamentação rígida, só poderemos esperar um novo fracasso. E dado que todos os países são sensíveis a aumentos de custos ou perda de competitividade económica, apenas iniciativas internacionais abrangentes poderão liderar as transformações necessárias, na condição de previamente compreenderem a amplitude e a gravidade desta emergência. Sem isso, os efeitos conjugados e cumulativos dos diversos fatores de perturbação climatérica irão em breve expor-nos a catástrofes sem precedentes − e muito antes do previsto.

Não é demais frisar que muitas das projeções e cenários que têm sido construídos sobre a evolução das alterações climáticas e suas consequências pecam por várias limitações metodológicas ou por compreensível prudência académica. Nalguns casos, fazem-se projeções apenas lineares, isto é, previsões que se baseiam no cálculo do que acontecerá dentro de um certo tempo se se mantiverem a tendência e o ritmo atuais de progressão dos fenómenos estudados, método este que deixa de fora a crescente aceleração deles. Noutros casos, por maior facilidade de análise ou por especialização científica, as previsões tomam em conta apenas a evolução isolada de uma ou duas variáveis do processo, deixando de fora o resultado expectável da conjugação de todas as variáveis conhecidas, ou seja, capricham no rigor analítico e fraquejam na visão sistémica. Noutros casos ainda, despreza-se a influência de diversas causas mal estudadas que podem ter um efeito catalisador nos processos naturais que condicionam a mudança climática. Em suma: nos trabalhos científicos e nos relatórios de instâncias internacionais, negligencia-se ou subestima-se com frequência a aceleração crescente das alterações climáticas, o carácter exponencial dos seus efeitos, a ação catalisadora de certas ocorrências conjugadas e as circunstâncias agravantes que contribuem (ou podem vir a contribuir) para desencadear ciclos viciosos ou “efeitos bola de neve”. Até certo ponto, isto é normal: quando se estudam isoladamente os muitos ingredientes de uma mistura, é fácil perder de vista se ela é explosiva. Neste assunto, porém, já não podemos dar-nos a esse luxo.

Em matéria climática, a realidade ultrapassou os cenários mais pessimistas e pulverizou todos os otimismos. O Protocolo de Quioto de 1997 e o Acordo de Paris de 2015 são hoje meras relíquias. Deles se aproveitam o manancial de dados até então recolhido e a convergência internacional de preocupações, mas não a justeza das previsões efetuadas nem a eficácia dos compromissos assumidos. Para além de os avanços práticos terem sido escassos, ninguém previu um ritmo tão acelerado das mudanças climáticas nem a evolução real das causas subjacentes. O aparente consenso científico pecou por defeito, a prudência académica e política pecou por excesso. Isso não pode voltar a acontecer na Conferência de Glasgow nem nas outras que se lhe seguirem, senão pagaremos um preço muitíssimo elevado. Se não quisermos pagá-lo, não podemos remeter para 2050 a meta da neutralidade carbónica. Para muitos países ou regiões e para muitas centenas de milhões de pessoas, será tarde demais. Mas ninguém ficará imune às consequências. Algumas delas são imprevisíveis, outras acontecerão bem antes do inicialmente previsto.

Convém não esquecer que, segundo o histórico a que nos habituámos, as previsões pessimistas de hoje serão as previsões ultrapassadas de amanhã. Teremos certamente um aquecimento global de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais até 2030 e poderemos chegar aos 2ºC até 2040, décadas antes do inicialmente previsto. Os verões vão batendo sucessivamente recordes absolutos de temperatura desde que há registos e têm surgido mantos de calor em regiões absolutamente inesperadas. A agravar toda a situação, incêndios florestais de proporções gigantescas em várias partes do mundo, mesmo em latitudes setentrionais, estão a aquecer ainda mais a atmosfera e a lançar nela quantidades incalculáveis de dióxido de carbono e de outros gases com efeito de estufa. A frequência e intensidade destes grandes incêndios tende a aumentar a cada ano que passa. O aquecimento dos oceanos progride a bom ritmo e tende também a acelerar. A quantidade de superfície gelada em todo o planeta tem vindo a diminuir em todas as estações do ano, o que diminui também a reflexão dos raios solares e aumenta a absorção de calor. Juntando estes e outros fatores, temos a combinação perfeita para que a subida do nível dos mares dispare.

Entre 1900 e o ano 2000, o nível médio do mar subiu 14 centímetros. Só nos primeiros vinte anos do século XXI, subiu mais de 7 centímetros. Ou seja, o ritmo de subida quase triplicou. Isto foi previsto? Tanto, não. Antecipou-se que haveria alguma aceleração, mas o aumento real do nível do mar é agora quase o dobro do que foi calculado. A esta cadência, e sem qualquer aceleração do fenómeno, poderíamos contar seguramente com uma subida adicional de 10 cm até meados deste século, o que já de si prenuncia consequências arrasadoras para muitas zonas litorais. As marés altas serão mais invasivas, haverá maiores amplitudes de ondulação (sobretudo durante os temporais) e as inundações costeiras serão mais frequentes e mais destruidoras. Mas o problema maior é que o fenómeno está em franca aceleração e essa aceleração está a intensificar-se cada vez mais, pelo que não será descabido admitir que uma tal subida possa ser atingida já durante a próxima década e que cheguemos a meio do século com uma subida de quase meio metro em relação ao nível médio do princípio do século. Mais uma vez, portanto, muito antes do previsto. Entretanto, iremos assistir a muita destruição costeira, mas não só. Mais calor na atmosfera e nos oceanos significa muito maior evaporação e, em seguida, fenómenos de precipitação bem mais severos que o habitual, como chuvas torrenciais de grande envergadura, enormes e extensos nevões ou queda de granizo de grandes dimensões, por vezes concentrando em poucas horas ou dias o que antes se repartia por períodos mais longos e, nalgumas regiões, causando mesmo fenómenos extremos sem precedentes. Por outras palavras: a destruição resultante não atingirá apenas o flanco dos arquipélagos e dos continentes, mas chegará também vinda de cima em proporções colossais, mesmo em zonas bastante afastadas do litoral e dos cursos de água.

A subida do nível do mar nunca foi tão rápida desde que há registos. Só o derretimento parcial do manto de gelo da Gronelândia, provocado pelo aumento das temperaturas médias locais nas últimas décadas, foi responsável por cerca de 25% do aumento do nível do mar globalmente. Este cenário de fundo foi agravado ocasionalmente pelo surgimento de grandes massas de ar quente e húmido transportadas para a zona e que cobriram temporariamente esta enorme ilha. Momentos houve em que o degelo ocorreu a uma média próxima de um milhão de toneladas por minuto, um valor demasiado alto mesmo para a nossa imaginação. E já este ano, os cientistas alertaram que uma parte significativa do gelo da Gronelândia estava a aproximar-se de um ponto de inflexão a partir do qual o degelo se tornaria inevitável. A observação das condições meteorológicas na região não deixa margens para dúvidas de que esse é um risco real. Em julho de 2021, ao longo de apenas um dia, derreteu gelo suficiente na Gronelândia para cobrir com cinco centímetros de água uma área equivalente ao estado norte-americano da Florida. No mês seguinte, com temperaturas acima de zero e nalguns locais 18ºC mais elevadas do que a média, choveu durante várias horas no cume da calota polar da Gronelândia, o que nunca antes tinha acontecido e conduziu ao derretimento de neve e gelo numa área cerca de quatro vezes superior ao tamanho do Reino Unido. Estes fenómenos não são fortuitos e estão indubitavelmente associados às diversas causas do aquecimento global, em particular às emissões de gases com efeito de estufa. Se as camadas de gelo na Gronelândia e na Antártida continuarem a derreter com o ritmo crescente dos últimos anos, estima-se que o nível do mar possa atingir já nas próximas décadas um patamar que anteriormente só era esperado para o final do século. Ora nenhum país estará preparado para enfrentar as possíveis consequências, e infelizmente pode dizer-se que quase nenhum está a preparar-se para elas. A imprevidência generalizada, tal como aconteceu com a mais recente pandemia, só poderá ampliar as calamidades que ocorrerem.

Importa também salientar que, tal como acontece com a subida das temperaturas, esta progressiva elevação do nível médio dos mares e dos oceanos não é uniformemente distribuída. Supô-lo é outro erro bastante comum. As grandes massas de água do planeta não são estáticas e por ação das marés, dos ventos e das correntes fustigam mais certas costas do que outras, o que significa que algumas zonas litorais sofrerão o impacto correspondente a uma subida maior que a média. Também as zonas de menor declive e com menos barreiras naturais ou artificiais tenderão a ser mais profundamente afetadas e enfrentarão um maior potencial destruidor.

Mas o maior fator de risco continua a ser a relativa imprevisibilidade dos piores cenários de curto e médio prazo. Causas súbitas e inesperadas poderão precipitar os acontecimentos muito para além do pessimismo considerado aceitável, gerando efeitos desastrosos, não para as gerações vindouras, mas para a humanidade atual. O que significa que mesmo os idosos de hoje não estão livres de vir a presenciar catástrofes que nunca imaginaram e de sofrer as eventuais consequências delas, diretas ou indiretas. O futuro imediato não é menos recheado de incerteza do que o futuro distante. O que está atualmente a acontecer não é apenas um conjunto de incidentes temporários num padrão climático errante. É uma vasta panóplia de sintomas climáticos que denunciam a iminência de algo em larga escala, algo que poderá eclodir em maiores proporções quase de um momento para o outro (como um extenso e rápido degelo, por exemplo, numa escala incomparavelmente superior ao registado até agora).

Poderia estabelecer-se uma analogia com o que acontece amiúde nas erupções vulcânicas: pode demorar décadas ou séculos a acumulação de pressão no interior de um vulcão antes de ele explodir, pode até haver prenúncios prolongados do que irá acontecer, mas a explosão é geralmente abrupta e as consequências são em larga medida irreversíveis. A ciência contemporânea sabe ainda demasiado pouco sobre o vulcanismo para sequer arriscar previsões pormenorizadas e este é um tema que raramente surge ligado à questão das alterações climáticas. Mas pode haver uma relação. O aumento considerável do nível das águas nos oceanos por efeito dos sucessivos degelos não só representa uma gigantesca deslocação e redistribuição de massa na superfície terrestre como altera substancialmente o peso total suportado pelas placas tectónicas nas suas diferentes zonas. Pura e simplesmente, desconhece-se o efeito que isso poderá vir a ter na atividade vulcânica e nos fenómenos sísmicos, numa perspetiva de curto ou médio prazo. A própria ignorância faz com que não se fale muito nisso, para evitar a pura especulação. Mas basta raciocinar um pouco para compreender que um acréscimo de vulcanismo e de atividade sísmica é de esperar como consequência das vastas e profundas alterações na superfície do planeta. Regiões que pareciam geologicamente estabilizadas podem em breve deixar de o ser, com enormes repercussões nas zonas urbanizadas mais próximas. Tal como a célebre Hidra da mitologia grega, o aquecimento global aparenta-se cada vez mais com um monstro de sete cabeças, todas elas igualmente ameaçadoras.

Haverá ainda tempo para reverter alguma coisa?

Sejamos realistas. Nas próximas décadas, o mundo não vai refrear a sua voracidade energética, nem o desejo de mobilidade, nem o consumo de carne, nem a ânsia de consumismo, nem a apetência por casas maiores e melhores. Todas as atividades económicas geradoras de grandes emissões poluentes estarão sob a pressão de uma procura crescente de bens e serviços. Não há como refreá-la globalmente, e muito menos naquela maioria de países que historicamente tem vivido com padrões inferiores de alimentação, conforto, mobilidade e consumo, e que querem agora aproximar-se do nível de vida dos países abastados. Portanto, temos é de reconverter processos e produtos para que gerem menos desperdícios e menos poluição. E isso era necessário para ontem. Hoje já estamos atrasados. Resta-nos fazer quanto antes o inventário dos progressos necessários para combater e reverter as alterações climáticas e fazer com que os governos e organizações internacionais deitem mãos à obra, apoiando e financiando o que for necessário e alterando drasticamente as suas prioridades de investimento – o que, em larga medida, só poderá ser conseguido com vasta cooperação internacional, o enorme problema de sempre. Só que, desta vez, não se trata de jogos de estratégia no tabuleiro da geopolítica. Para alguns países, trata-se de pura sobrevivência; para muitos outros, trata-se de não perder território e infraestruturas; e para outros ainda, trata-se de evitar o caos generalizado; mas para vastas porções da humanidade, a grande ameaça comum pode ser a de decair dramaticamente nos respetivos níveis de civilização. Conquistámo-los, em muitos casos, contra a natureza. Agora teremos de nos harmonizar com ela, quer queiramos quer não. E quanto antes.

Não podem ser meras precauções de natureza económica ou política a justificar tibiezas e hesitações naquilo que é indispensável fazer. E será bom termos em mente que, quaisquer que sejam os custos de uma reconversão rápida e programada das economias nacionais e dos processos tecnológicos, serão incomensuravelmente maiores os custos resultantes da destruição ou da paralisia económica causadas por grandes catástrofes naturais totalmente fora do nosso controle e de dimensões sem precedentes, cujos contornos e impacto podemos apenas suspeitar. Se pouco ou nada for feito, as perdas humanas e materiais ultrapassarão as piores previsões de hoje e sofreremos, muito antes do previsto, as pesadas consequências do nosso desleixo colectivo.

Não sabemos que mundo vamos deixar aos nossos descendentes, em consequência do nosso egoísmo geracional, mas a questão fulcral já deixou de ser essa. É que a partir de agora já nem sequer sabemos, num futuro mais ou menos próximo, que mundo vamos deixar a nós próprios. E se já foi tempo de ponderação e de prudência, os dados de que dispomos hoje exigem clarividência e ação imediata. Estamos numa corrida contra o tempo, o que significa que não há muito tempo a perder. Nunca tanto como hoje foi necessária uma ação concertada de políticos, diplomatas, cientistas, empresários, pedagogos e comunicação social. E onde quer que existam líderes à altura das transformações necessárias, está na altura de saírem do armário. Chegámos a um ponto em que não podemos continuar a ignorar ou desvalorizar as ameaças climáticas e tudo o que elas podem implicar, ou espera-nos uma era de retrocesso económico, social, político e civilizacional. Basta de retórica política. É preciso agir.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Climate Change: OPTIMISM, IDEOLOGY AND REALITY

Little by little, we are getting a better understanding of how everything in nature is interconnected. We frequently use the word “ecology” to express the interdependence between species, between them and their habitats or them and other natural phenomena that once were thought not being related. We’re gradually understanding how, in any system, many factors can be affected by a single one, and vice-versa. In summary: that almost everything depends on almost everything, directly or indirectly, and that a single unregulated occurrence can affect a multitude of circumstances or balances.

When we circumscribe this systemic comprehension to a given fauna or region, we call it “ecosystem”. In the last decades, scientists have been studying separately many ecosystems in the most varied places in the world. What we haven´t quite understood yet, as it seems, is that our whole planet is, in its entirety, a vast ecosystem. When we damage one of its parts, we affect the rest. One day, the extent of the damages may be such that repairing them could be beyond our reach. The great and true riddle of our time is if that day has already come.

It would be good to always keep in mind that, in the past 50 years of climatic anguish and heated debates around the subject, optimists have almost never been right. Is it to be expected that they are now? In the past, we were slow to understand the speed of climate changes; now, and in reverse, we’re being slow to realize the speed with which we need to discover the technology needed to fight them. A lot of suffering and immense destruction will come to pass because of this.

Let’s put a personal question: have you ever thought that we may have reached, or may be about to reach, a point of no return? That, having crossed a certain threshold of artificial interference in the terrestrial ecosystem, we can unleash a climatic and biological disorder of such magnitude that we can do little more than watch, bewildered and almost powerless, its devastating consequences? That may already be the case, or not. We don´t really know. But if we continue to optimistically rely on hypothetical future technology to find a way out of the environmental disaster that awaits us around the corner, it remains no doubt that we’ll be caught off guard and with our pants in our hands. It will be better to speed up the pace a lot, and as soon as possible… Optimism, in this case, plays against us.

Another phenomenon that has not helped much in the fight against climate change is the fact that the issue has been contaminated by the ideological segmentation that has taken hold of modern politics.

Some political views, especially those commonly referred to as “left-winged”, appropriated these themes as if climate issues were specifically their causes. This happened for too long, in face of the relative passiveness of other political forces. When these finally noticed the impact of such issues in the public opinion, some did it in the worst way: instead of claiming the climate and environment issues as a common cause to every party division, or even hovering above it, they decided to adopt a hostile attitude and became “negationists”, particularly amongst the “radical right”.

What is “negationism”? It manifests itself in two ways: one of them simply denies that a global warming is taking place on the planet, seeing that notion as a mere conspiracy fueled by obscure and nefarious interests; the other, despite admitting that global warming may be happening, denies that it results from human action and its interferences in the cycles of nature and ecological balances (that is, it defends the premise that climate change is brought about by purely natural causes and has nothing to do with human activities).

Who can be right in these quarrels?

It’s quite possible, and even likely, that there are also purely natural causes influencing climate change, although it’s not yet clear what those are. After all, Earth’s climate hasn’t been always stable before the appearance of humans. There have been ample changes in the planet’s average temperature, there have been rises and falls in sea levels, there have been dramatic changes in the meteorology and biosphere of the continents. No one can seriously believe that all this global mutability has, at a certain point, drifted off into a fixed trend towards climatic stability, merely disturbed by recent human action. But on the other hand, taking every piece of gathered evidence into account, it is undeniable that human impact on Earth is decisively contributing to the intensity and pace of current climate change. The transformations imposed on the planet have been in such a scale that they have affected practically every ecosystem and every natural cycle. How could this not have severe repercussions in climates at large?

This is not an ideological matter, it’s a factual matter. These are not theories, as there are undeniable facts that show the greatness and the repercussion of the ongoing changes. The possible consequences of these changes may even challenge our imagination. But one doesn’t need to imagine too much. Extreme meteorologic phenomena that have been taking place have not only made climate change irrefutable but have given us a foreshadowing of how things can become worse: devastation on a scale never seen before caused by typhoons, floods, unbearable heat waves, devastating fires, at times with such magnitude as to throw into chaos entire countries or regions. And at a later phase, not that far off in time, capable of destroying our current civilizations as we know them.

Exaggeration? No. When it comes to climate change, everything is getting worse and at a faster pace than scientists had predicted. As a logical conclusion, the consequences of those changes can also be far worse than anticipated.

We’re running against the clock, but many political leaders have not yet realized the gravity of this whole issue.  They still think of climate change as a gradual phenomenon and unhurriedly announce less pollutant energy or vague reductions in greenhouse gas emissions. None of these promises will be enough, even if they were all kept (and many of them have not been). Mere pollutant emission reductions will no longer suffice. Given the point that we have come to, we could only begin to revert the process with new and efficient carbon capture technologies and geoengineering solutions – both of which we don’t have yet.

It’s not enough to reduce greenhouse gas emissions. Even reduced, all these emissions will add to those that already remain in the atmosphere, which means they will simply aggravate the current situation. They will have a cumulative effect. And to the new emissions that we’ll make it will also be added every emission caused indirectly by our interference on the natural cycles and ecosystems. A vicious cycle of causes and effects is already in motion and, because of it, everything is happening much faster and much worse than anticipated by the most pessimistic experts. There are only two logical conclusions: 1st) we don’t have until 2050 to reach carbon neutrality, without first suffering devastating consequences; 2nd) we need to create and implement carbon capture technologies very quickly, as well as take advantage of natural processes that can contribute to the same goal.

If we don´t seriously face these two problems, our future will become very dark – and perhaps much earlier that we thought.

As the latest United Nations report on this topic states, “many of the changes we can observe on the climate are without precedent in thousands, if not hundreds of thousands of years, and some of the changes already in motion – like the rising sea levels – are irreversible during the next hundreds or thousands of years”. And yet, that same report leaves a positive note: “However, strong and sustained reductions in emissions of carbon dioxide and other greenhouse gases would limit climate change. While the benefits to air quality would be quick, it could take up to 20 or 30 years for global temperatures to stabilize.” Is it really so?

There seems to be, in this apparent showing of optimism, a certain care to steer away from climate alarmism, perhaps precisely the opposite of what would be necessary at this stage of events. The unavoidable truth is that all the most pessimistic scenarios of that and other similar entities have been far and wide surpassed by reality. This reveals that there have been repeated methodological errors in the forecasts made or there are acting causes of global warming that have not been correctly evaluated. Perhaps we are still unaware of some of them or the intricate web of interactions between them. Or perhaps the exponential character of the phenomena underlying climate change is underestimated. Sometimes there are even conclusions in the reports that only seem to reflect the search for an acceptable compromise between the different scenarios proposed by experts, a kind of reasonable consensus that does not undermine its scientific credibility. But it's impossible not to notice some inconsistencies.

To hold a lot of hope in a sharp reduction in pollutant emissions is like betting everything on a limping horse. Emissions have not stopped growing year after year, but even if we were able to reduce them from now on, new emissions will always add to the existing ones. Therefore, a reduction (even if drastic) in new emissions does not mean a reduction in the total amount of greenhouse gases in the atmosphere. It will never be enough to stress this nor should there be any misunderstandings or illusions about it. Everything will depend on the positive or negative balance that we’ll manage to establish between the increase in the accumulated total of emissions and the carbon capture that occurs through natural or artificial processes.

Henceforth we will have a sort of current account with nature, but we will also need to work alongside her. Because in the end, to avoid predictable disasters, we and nature together will need to capture more carbon than is released in many different ways. For our share, we will need not only to facilitate the natural processes of this carbon capture but also to add others created by our own technology, and both as urgently as possible. In fact, it’s no longer rational to avoid alarmism, because we are running out of time to avoid the worst.

In 2018, a specialized agency of the United Nations published a special report in which it estimated that the planet was then 1ºC above pre-industrial levels. Now, three years later, it claims that it’s already 1,1ºC above those levels. You just have to do the math: if this pace of warming kept up, we would reach 2ºC even before 2050, which in itself would be frightening, as it represents even more than the same organism predicted just half a dozen years ago for the end of the century! There was, therefore, an acceleration. But the additional problem is that the pace of warming continues to accelerate, which means that every projection made in line with the current pace will quickly fall short: it’s dangerously underestimated for not taking this increasing acceleration into due account.

What does that imply for the world we live in? There will certainly be more intense heat waves, longer hot seasons and shorter cold seasons. But if global warming reaches 2ºC, extreme heat waves will more often hit critical tolerance limits for agriculture and health, also says the latest UN report. This means that various areas of the planet, spread across different continents and sparing none, might quickly reach temperatures in which human life becomes impossible, generating millions of climate refugees, many of them impoverished and desperate.

With regard to the rising sea levels, it’s possible that climate experts might again be surprised. If the pace of global warming is in fact being underestimated, by not being properly accounted its rising acceleration, this means that forecasts made for 2050 or for the end of the century might be reached much sooner. And it all bodes that they will, because the global situation continues to deteriorate in front of our very eyes. There are several reasons for it. Here are a few.

Over the last few decades, forests and oceans, along with soils, have been able to capture more than half of carbon dioxide emissions produced by human activities, using it in natural processes (such as photosynthesis, for example, function by which plants, algae and some bacteria, while in the presence of sunlight, transform carbon dioxide and water into organic matter, releasing oxygen). Therefore, forests and oceans act as “carbon sinks”, but their absorption capacity has limits and, worse than that, everything indicates they will become less efficient on the course of next decades, beyond the fact that the increase in emissions will not be accompanied by an increase of these “sinks”. On the contrary.

Forests are shrinking at a galloping pace, due to aggressive deforestation and large forest fires, covering ever wider areas. In many regions of the planet, the accelerated felling of trees and intentional burnings have given place to agricultural fields and pastures for intensive cattle raising. As an aggravating factor, fires and burnings release enormous quantities of carbon into the atmosphere, which counteracts current efforts to reduce industrial emissions. In the oceans, we can notice a rarefaction of phytoplankton, a varied set of microorganisms capable of photosynthesis that live floating on the surface of water (like algae and cyanobacteria) and not only assure the oxygenation of the water but also form the basis of aquatic food chain. This rarefaction is also taking place in many of great rivers and lakes, in addition to the fact that some of them are slowly shrinking in size. And the contribution of soils may also be affected, not only due to accelerated erosion and decomposition, but also due to the effect of pesticides and intensive farming.

The warming of the oceans is itself a problem, given that carbon dioxide in the atmosphere dissolves more easily in cold water than in warm water. Therefore, the warming of the water makes the process more difficult. Besides, surface waters carried from tropics, now warmer, to high latitudes (including polar regions) may accelerate the fusion of ices, leading to a reduction of salinity in superficial waters and increasing the stratification between these and waters in lower layers, what in turn reduces the downward movement of carbon dioxide into the deep ocean. Keeping in mind that differences of temperature and salinity in waters determine the path of maritime currents, significant variances in these parameters may alter the currents themselves, and they certainly will. Oceanic flows play a fundamental role in regulating global climate, as they are largely responsible for the transfer and redistribution of heat, thus preventing the planet from becoming more inhospitable. Therefore, an alteration in these flows might trigger drastic changes in the degree of habitability of many regions in the world.

But it’s hard to talk about oceans without mentioning one of the worst tragedies happening to them nowadays: the accumulation of hundreds of millions of tons of plastic, something that, according to some studies, is causing such damage to marine environments that we may have already crossed a line of no return. It’s not just the pollution caused by the plastics themselves, whose degradation takes tens or hundreds of years to occur and will progressively transform a large part of them into smaller debris (generically called “microplastics”) that will mix with the food of a lot of species, thus penetrating many food chains, including ours. Before that happens, these plastics absorb chemicals that freely float in the ocean and make them potentially toxic. When they’re ingested, they become doubly harmful and dangerous: by the very ingestion of the plastic, that is often lethal or capable of causing injuries, and by the accumulation of contaminating products in the viscera and muscles of marine animals, which concentrates them along the food chain. Without realizing it, a big part of them will end up on our plate.

This accumulation of plastics in rivers and oceans is taking place on such a scale that in some parts of the world we need to see it to believe it: there are Asian rivers so full of debris that you can no longer see the water, to the point that we can no longer tell that it’s a river we’re seeing, and in oceans have been formed rubbish islands bigger than some countries. The largest of them all is the famous Plastic Island that formed in the Pacific Ocean, between Hawai and California, which has about 1.6 million km2 (a total area three times bigger than France and 18 times the size of Portugal!) and keeps growing.

This kind of water pollution is affecting the survival of many species, some already on the brink of extinction. And we don’t know yet the full extent of its effects on marine ecosystems, although it’s probably a ticking time bomb. But less is said about its potential impact on climate change because influence of plastics on the warming of river and ocean waters has not yet been properly studied. The analogy may sound a bit too simplistic, but it’s plastic we often use to create land-based greenhouses, as it causes heat retention. If huge areas of ocean surface are now completely covered with plastic debris of all kinds, will this not harm aquatic thermal processes and heat redistribution, won’t photosynthesis be drastically affected, thus jeopardizing the survival of phytoplankton in these vast areas and threatening the entire food chain that depends on it? These are some questions to which we haven’t an enlightening answer yet. But no one will be surprised if it comes to be proved that pollution of waters by plastics is significantly contributing to the warming of the oceans.

One of the consequences of this warming is its pernicious or destructive effect on coral reefs around the world. Many corals are dying at various latitudes and at a fast pace. We easily understand the importance of this if we consider that one in every four marine species lives in coral reefs, including about 2/3 of all fish species, which in them find shelter, food and safe places to reproduce. One of the most obvious symptoms of coral withering is their progressive bleaching, which comes from a loss in biological interaction with algae they live in association with and is also related to an increase of diseases in corals themselves.

Making things worse, a phenomenon of ocean acidification is taking place. This happens due to the great quantity of atmospheric CO2 that dissolves in water, creating carbonic acid, a very unstable compound that by dissociation turns water more acidic. Acidification has a direct negative impact on coral structures, whose skeletons are made of limestone, what in this case represents a vulnerability that makes them more fragile and subject to being diluted. Needless to say that the decay and death of reefs, given their impacts on their respective ecosystems, may result in a drastic diminishing of the amount of fish in the affected areas, with dramatic consequences for food chains and fisheries. If storms, droughts and desertification represent a rising risk to agricultural production, obtaining food at sea may come to know worse days than the growing scarcity already felt today.

Scarcity is synonymous with high prices or famine. For populations that extract their food and basic income directly from land or sea, the future is uncertain. Some may take advantage of scarcity and inflation, others may be their victims. Among these, some may experience outbreaks of hunger and malnutrition. But for the bulk of individuals and families in almost all societies, less abundance in production or disturbances in the distribution of foodstuffs will represent an increase in costs and a step down in quality of life. In many places, this may represent a social setback of decades. However, given the overall picture resulting from climate change, this may well turn out to be the least of evils.

sábado, 23 de outubro de 2021

Alterações Climáticas: OPTIMISMO, IDEOLOGIA e REALIDADE


Aos poucos vamos sabendo melhor como tudo na natureza está interligado. Utilizamos com frequência a palavra “ecologia” para exprimir a interdependência entre as espécies, entre estas e os seus habitats ou entre estes e outros fenómenos naturais que outrora pareciam nada ter a ver com eles. Vamos paulatinamente percebendo como, em qualquer sistema, muitos fatores podem ser afetados por um só, e vice-versa. Em suma: que quase tudo depende de quase tudo, direta ou indiretamente, e que uma única ocorrência desregulada pode afetar todo um conjunto de circunstâncias ou de equilíbrios.

Quando circunscrevemos esta compreensão sistémica a uma dada fauna ou região, chamamos-lhe “ecossistema”. E nas últimas décadas, os cientistas têm estudado separadamente muitos ecossistemas nos mais variados lugares do mundo. O que ainda não percebemos bem, segundo parece, é que o nosso próprio planeta é, todo ele, um vasto ecossistema. Quando danificamos uma das suas partes, afetamos as restantes. Um dia, a extensão dos danos pode ser tal que consertá-los esteja já fora do nosso alcance. O grande e verdadeiro enigma do nosso tempo é se esse dia já chegou.

Será bom termos sempre presente que, nos últimos 50 anos de angústias climáticas e de debates acalorados em torno do assunto, os otimistas quase nunca tiveram razão. Será de esperar que a tenham desta vez? No passado, fomos lentos a perceber a velocidade das mudanças climáticas; agora, e em sentido inverso, estamos a ser lentos a perceber a velocidade com que precisamos descobrir a tecnologia necessária para combatê-las. Muito sofrimento e enorme destruição irão acontecer por causa disso.

Coloquemos uma questão pessoal: já alguma vez pensou que possamos ter chegado, ou que estejamos prestes a chegar, a um ponto de não retorno? Que, transposto um certo limiar de interferências artificiais no ecossistema terrestre, possamos desencadear uma desordem climática e biológica de tal magnitude que pouco mais possamos fazer depois senão assistir, desnorteados e quase impotentes, às suas consequências devastadoras? Pode já ser esse o caso, ou não. Não sabemos realmente. Mas se continuarmos a contar otimisticamente com hipotética tecnologia futura para encontrar uma saída para o desastre ambiental que nos espera ao virar da esquina, não sobram dúvidas de que seremos apanhados desprevenidos e com as calças na mão. Será melhor acelerarmos bastante o passo, e quanto antes… O otimismo, neste caso, joga contra nós.

Outro fenómeno que não tem ajudado muito no combate às alterações climáticas é o facto de este assunto ter sido contaminado pela segmentação ideológica que tomou conta da política contemporânea.

Algumas correntes políticas, sobretudo as que são vulgarmente apelidadas de “esquerda”, apropriaram-se destas temáticas como se as questões do clima e do ambiente fossem causas especificamente suas. Isto aconteceu durante demasiado tempo, perante a relativa passividade das outras forças políticas. Quando estas finalmente despertaram para o impacto de tais assuntos na opinião pública, algumas fizeram-no da pior forma: em vez de reivindicarem as preocupações climáticas e ambientais como uma causa comum e transversal a toda a divisão partidária, ou até mesmo pairando acima dela, resolveram adotar uma atitude hostil e tornaram-se negacionistas, sobretudo entre a chamada “direita radical”.

Em que consiste o negacionismo? Ele manifesta-se sob duas formas: uma delas nega pura e simplesmente que esteja a ocorrer  um aquecimento global do planeta, vendo nessa ideia uma mera conspiração alimentada por interesses obscuros e iníquos; a outra, embora admitindo que esse aquecimento global possa estar a acontecer, nega que ele resulte da ação humana e das suas interferências nos ciclos da natureza e nos equilíbrios ecológicos (ou seja, defende a tese de que as alterações climáticas resultam de causas puramente naturais e nada têm a ver com as atividades humanas).

Quem pode ter razão nestas querelas?

É bem possível, e até provável, que haja também causas puramente naturais a influenciar as mudanças do clima, embora ainda não esteja muito claro quais elas sejam. Afinal de contas, o clima na Terra não foi sempre estável antes do aparecimento da espécie humana. Houve alterações amplas na temperatura média do planeta, houve subidas e descidas do nível dos mares, houve mudanças dramáticas na meteorologia e na biosfera dos continentes. Ninguém pode seriamente acreditar que toda essa mutabilidade global tivesse a certa altura desembocado numa tendência fixa para a estabilidade climática, apenas perturbável pela ação humana recente. Mas por outro lado, tendo em consideração toda a evidência entretanto acumulada, é inegável que o impacto humano na Terra está a contribuir decisivamente para a intensidade e o ritmo das alterações climáticas atuais. Têm sido de tal ordem as transformações impostas ao planeta que elas têm afetado praticamente todos os ecossistemas e todos os ciclos naturais. Como poderia não haver graves repercussões nos diversos climas?

Esta não é uma questão ideológica, é uma questão factual. Não são teorias, são factos incontestáveis que revelam a grandeza e as repercussões das alterações em curso. As possíveis consequências delas é que poderão desafiar a imaginação. Mas não precisamos imaginar muito. Os fenómenos meteorológicos extremos que têm ocorrido ultimamente não só tornaram inegável a mudança climática como nos deram um prenúncio de como as coisas podem piorar: devastações numa escala sem precedentes provocadas por tufões, dilúvios, vagas de calor insuportáveis, cheias, incêndios arrasadores, por vezes com proporções capazes de lançar no caos países ou regiões inteiras. E numa fase posterior, mas não muito distante no tempo, capazes de destruir as nossas civilizações atuais, tal como as conhecemos.

Exagero? Não. No que toca às alterações climáticas, tudo está a ficar pior e mais depressa do que os cientistas antes previram. Como corolário lógico, as consequências dessas alterações também podem ser bem piores do que o previsto.

Travamos uma corrida contra o tempo, mas muitos dirigentes políticos não se aperceberam ainda da gravidade da situação. Continuam a pensar na mudança climática como um fenómeno gradual e anunciam sem pressas energias menos poluentes ou vagas reduções nas emissões de gases com efeito de estufa. Nenhuma dessas promessas será suficiente, ainda que todas fossem cumpridas (e muitas delas não o têm sido). Já não bastarão meras reduções nas emissões poluentes. Dado o ponto a que chegámos, só poderíamos começar a inverter o processo com novas e eficientes tecnologias de captura de carbono e soluções de geoengenharia tecnologias e soluções que ainda não possuímos.

Não basta reduzirmos as emissões de gases com efeito de estufa. Mesmo reduzidas, todas essas emissões vão acrescentar-se às que já permanecem na atmosfera, ou seja, vão agravar a situação atual. Vão ter um efeito cumulativo. E às novas emissões que fizermos vão também adicionar-se todas as emissões provocadas indiretamente pelas nossas interferências nos ciclos naturais e nos ecossistemas. Um ciclo vicioso de causas e efeitos já está em marcha e, por causa dele, tudo está a acontecer pior e mais depressa do que foi antes previsto pelos peritos mais pessimistas. Só há duas conclusões lógicas a tirar: 1ª) não temos até 2050 para atingir a neutralidade carbónica, sem antes sofrermos consequências devastadoras; 2ª) necessitamos criar e pôr em prática muito rapidamente tecnologias de captura de carbono, assim como tirar partido dos processos naturais que possam contribuir para o mesmo objetivo.

Se não encararmos a sério estes dois problemas, o nosso futuro vai tornar-se bastante sombrio – e talvez muito mais rapidamente do que pensávamos.

Como afirma o último relatório das Nações Unidas sobre este tema, “muitas das mudanças observadas no clima não têm precedentes em milhares, senão em centenas de milhares de anos, e algumas das mudanças já em marcha — como a subida continuada do nível do mar — são irreversíveis ao longo das próximas centenas ou milhares de anos.” Ainda assim, o mesmo relatório deixa uma mensagem pela positiva: “Contudo, reduções fortes e sustentadas das emissões de dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa limitariam as alterações climáticas. Enquanto os benefícios para a qualidade do ar seriam rápidos, poderia demorar uns 20 a 30 anos para que as temperaturas globais estabilizassem.”  Será, de facto, assim?

Parece haver nesta aparente manifestação de otimismo uma certa preocupação de fugir ao alarmismo climático, talvez precisamente o contrário do que seria necessário nesta fase dos acontecimentos. A verdade incontornável é que todos os cenários mais pessimistas daquele e de outros organismos semelhantes foram largamente ultrapassados pela realidade. Isso revela que tem havido repetidamente erros metodológicos nas previsões realizadas ou que há causas atuantes no aquecimento global que não têm sido corretamente avaliadas. Talvez desconheçamos ainda algumas delas ou a teia intrincada das interações entre elas. Ou talvez se subestime o carácter exponencial dos fenómenos subjacentes às alterações climáticas. Por vezes há até conclusões nos relatórios que parecem apenas traduzir a busca de um meio-termo aceitável entre os diversos cenários propostos pelos especialistas, uma espécie de consenso razoável que não ponha em causa a sua credibilidade científica. Mas é impossível não notar algumas incongruências.

Depositar demasiadas esperanças numa forte redução das emissões poluentes é como apostar tudo num cavalo coxo. As emissões não têm parado de crescer ano após ano, mas ainda que conseguíssemos doravante reduzi-las, as novas emissões vão sempre adicionar-se às já existentes. Portanto, uma redução (mesmo que drástica) das novas emissões não significa uma redução da quantidade total de gases com efeito de estufa existentes na atmosfera. Nunca será demais insistir nisto, nem deverá quaisquer haver enganos ou ilusões quanto a isto. Tudo dependerá, afinal, do saldo positivo ou negativo que consigamos estabelecer entre o acréscimo do total acumulado de emissões e a captura de carbono que ocorra por processos naturais e artificiais. Teremos doravante uma espécie de conta-corrente com a natureza, mas precisaremos também de colaborar com ela. Porque no fim de contas, para evitar os desastres previsíveis, nós e a natureza precisaremos em conjunto de capturar mais carbono do que aquele que é libertado sob as mais diversas formas. Pela nossa parte, precisaremos não só de facilitar os processos naturais dessa captura de carbono como também de acrescentar outros criados pela nossa própria tecnologia, e ambas as coisas com a maior urgência possível. Na verdade, deixou de ser racional evitar o alarmismo, porque estamos a ficar sem tempo para evitar o pior.

Foi em 2018 que um organismo especializado das Nações Unidas publicou um relatório especial em que estimou que o planeta se encontrava então 1ºC acima dos níveis pré-industriais. Agora, três anos depois, afirma que já se encontra 1,1ºC acima desses níveis. Basta fazer as contas: se este ritmo de aquecimento se mantivesse, atingiríamos os 2ºC ainda antes de 2050, o que já de si seria assustador, pois representa ainda mais do que o mesmo organismo previra apenas há meia dúzia de anos para o final do século! Houve, portanto, uma aceleração. Mas o problema adicional é que o ritmo do aquecimento continua a acelerar, o que significa que todas as projeções feitas com base no ritmo atual cairão rapidamente por terra. Elas estão perigosamente subestimadas, por não tomarem em devida conta essa aceleração crescente.

O que implica isto para o mundo em que vivemos? Haverá certamente “cada vez mais ondas de calor, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas”. Mas se o aquecimento global chegar aos 2ºC, as ondas de calor extremas atingirão mais frequentemente os limites críticos de tolerância para a agricultura e a saúde, diz também o último relatório das Nações Unidas. Isso significa que várias zonas do planeta, espalhadas pelos diversos continentes e sem poupar nenhum, poderão chegar rapidamente a temperaturas em que a vida humana se torna impossível, gerando milhões de refugiados climáticos, muitos deles empobrecidos e desesperados.

No que concerne à subida das águas do mar, é possível que os especialistas do clima venham a ser novamente surpreendidos. Se o ritmo do aquecimento global estiver a ser subestimado, por não estar a ser devidamente contabilizada a sua crescente aceleração, isso significa que as previsões feitas para 2050 ou para o final do século podem ser atingidas muito antes. E tudo aponta para que o venham a ser, porque a situação global continua a deteriorar-se a olhos vistos. Há várias razões para isso. Eis algumas.

Ao longo das últimas décadas, as florestas e os oceanos, juntamente com os solos, têm conseguido captar mais de metade das emissões de dióxido de carbono produzidas pelas atividades humanas, usando-o em processos naturais (como a fotossíntese, por exemplo, função pela qual as plantas, as algas e algumas bactérias, em presença da luz solar, transformam dióxido de carbono e água em matéria orgânica, libertando oxigénio). Florestas e oceanos atuam, portanto, como “sorvedouros de carbono”, mas a sua capacidade de absorção tem limites e, pior do que isso, tudo indica que vão tornar-se cada vez menos eficientes ao longo das próximas décadas, além de que o aumento das emissões não será acompanhado por um aumento destes “sorvedouros”. Antes pelo contrário. As florestas estão a diminuir a um ritmo galopante, devido ao desmatamento agressivo e aos grandes incêndios florestais, abrangendo áreas cada vez mais extensas. Em muitas regiões do planeta, o abate acelerado de árvores e as queimadas intencionais têm dado lugar a campos agrícolas e a pastos para a pecuária intensiva. Como agravante, os incêndios e as queimadas libertam grandes quantidades de carbono para a atmosfera, o que atua em contracorrente com os esforços de redução das emissões industriais. Nos oceanos, assiste-se a uma rarefação do fitoplâncton, um conjunto variado de micro-organismos capazes de fotossíntese que vivem flutuando na superfície das águas (tais como algas e cianobactérias) e que não só garantem a oxigenação da água como constituem a base da cadeia alimentar aquática. Essa rarefação está também a ocorrer em muitos dos grandes rios e lagos, para além do facto de alguns deles estarem a encolher de tamanho. E a contribuição dos solos também poderá estar afetada, não apenas devido à erosão e à decomposição aceleradas, mas também devido à ação dos pesticidas e às práticas de agricultura intensiva.

O aquecimento dos oceanos é, só por si, um problema, já que o dióxido de carbono da atmosfera se dissolve mais facilmente em água fria do que em água quente. Portanto, o aquecimento das águas dificulta o processo. Também as águas superficiais transportadas dos trópicos, agora mais quentes, para as altas latitudes (incluindo as regiões polares) podem acelerar a fusão dos gelos, levando à redução da salinidade das águas superficiais e assim aumentando a estratificação entre estas e as águas das camadas inferiores, o que por sua vez reduz o movimento descendente de dióxido de carbono para o oceano profundo. Uma vez que são as diferenças de temperatura e de salinidade das águas que determinam em certa medida o trajeto das correntes oceânicas, as variações significativas de qualquer destes parâmetros podem alterar as próprias correntes e irão certamente fazê-lo. Ora a circulação oceânica desempenha um papel fundamental na regulação do clima global, já que as suas correntes são grandemente responsáveis pela transferência e redistribuição do calor, evitando que o planeta se torne mais inóspito. Portanto, a alteração dessas correntes pode desencadear mudanças drásticas no grau de habitabilidade de muitas regiões do mundo.

Mas é difícil falar dos oceanos sem referir uma das maiores tragédias que neles está a ocorrer: a acumulação de centenas de milhões de toneladas de plásticos, algo com que, segundo alguns estudos, estamos a provocar danos tais nos ambientes marinhos que talvez já tenhamos ultrapassado um ponto de não retorno. Não se trata apenas da poluição causada pelos próprios plásticos, cuja degradação leva dezenas ou centenas de anos e que em grande parte os vai progressivamente transformando em detritos mais pequenos, que os investigadores chamam genericamente “microplásticos” e que, confundindo-se ou misturando-se com o alimento de várias espécies, acabam por penetrar em muitas cadeias alimentares, incluindo a nossa. Antes de tal acontecer, estes plásticos vão absorvendo químicos que flutuam livremente no oceano, tornando-os potencialmente tóxicos. Quando são ingeridos, tornam-se duplamente nocivos e perigosos: pelos efeitos da própria ingestão do plástico, muitas vezes letal ou causadora de lesões, e pela acumulação de produtos contaminantes nas vísceras e músculos dos animais, o que faz com que se concentrem ao longo da cadeia alimentar. Uma boa parte deles, sem darmos conta, vai acabar no nosso prato.

Esta acumulação de plásticos nos rios e nos oceanos tomou tal dimensão em algumas partes do mundo que precisamos ver para crer: há rios asiáticos de tal modo cheios de detritos que já não se consegue ver a água, a ponto de quase não nos apercebermos que se trata de um rio, e nos mares formaram-se ilhas aparentes com dimensão maior que alguns países. A maior delas é a famosa Ilha de Plástico que se formou no Oceano Pacífico, entre o Havai e a Califórnia, que já tem cerca de 1,6 milhões de Km2 (uma área total quase três vezes maior que a da França ou 18 vezes a de Portugal!) e que continua a crescer.

Esta forma de poluição das águas está a afetar a sobrevivência de muitas espécies, algumas já à beira da extinção. E não sabemos ainda bem quais os seus potenciais efeitos em todos os ecossistemas marinhos, embora se adivinhe que seja uma bomba-relógio. Mas do que se fala menos é do seu potencial impacto nas alterações climáticas, porque ainda pouco se estudou a influência dos plásticos no aquecimento das águas fluviais e oceânicas. A analogia pode parecer um pouco simplista, mas é plástico que usamos para criar estufas em terra, por ele provocar retenção de calor. Havendo, como há, áreas descomunais de oceano que já têm a sua superfície completamente recoberta de detritos plásticos de todo o género, não prejudicará isso os processos térmicos aquáticos e a redistribuição do calor, não será dramaticamente afetada a fotossíntese e não estará assim posta em causa a sobrevivência do fitoplâncton nessas vastas áreas, bem como de toda a cadeia alimentar que depende dele? Eis perguntas ainda sem resposta esclarecedora. Mas ninguém se surpreenderá se vier a descobrir-se que a poluição das águas pelos plásticos está a contribuir significativamente para o aquecimento dos oceanos.

Uma das consequências desse aquecimento é o seu efeito pernicioso ou destrutivo sobre os recifes de coral em todo o mundo. Muitos corais estão a morrer em diversas latitudes, a um ritmo acelerado. Compreendemos facilmente a importância disso se pensarmos que uma em cada quatro espécies marinhas vive nos recifes de corais, incluindo cerca de 2/3 das espécies de peixe, que neles encontram abrigo, alimento e locais protegidos para a reprodução. Um dos sintomas mais óbvios do definhamento dos corais é o seu progressivo branqueamento, que traduz uma perda de interação biológica com as algas que com eles vivem em associação e que está também relacionado com o aumento de doenças nos próprios corais.

Complicando ainda mais a situação, está a ocorrer um fenómeno de acidificação dos oceanos. Isto acontece devido à grande quantidade de CO2 atmosférico, que em parte se dissolve na água, formando ácido carbónico, um composto muito instável que ao dissociar-se torna a água mais ácida. A acidificação tem um impacto negativo direto nas estruturas dos corais, cujos esqueletos são de natureza calcária, tornando-as mais frágeis e sujeitas a serem diluídas. Escusado será dizer que o definhamento e a morte dos corais, pelos seus impactos nos respetivos ecossistemas, poderão ter como resultado a diminuição drástica da quantidade de peixe nas zonas afetadas, com consequências dramáticas nas cadeias alimentares e nas pescas. Se as tempestades, as secas e a desertificação representam um risco crescente para a produção agrícola, a obtenção de alimento no mar também poderá vir a conhecer piores dias do que a crescente escassez que já hoje se faz sentir.

Escassez é sinónimo de carestia ou fome. Para as populações que extraem a sua alimentação e o seu rendimento básico diretamente da terra ou do mar, o futuro é incerto. Algumas poderão tirar partido da escassez e da carestia, outras poderão ser suas vítimas. De entre estas, algumas poderão conhecer surtos de fome e subnutrição. Mas para o grosso dos indivíduos e das famílias em quase todas as sociedades, a menor abundância na produção ou as perturbações na distribuição de bens alimentares representarão um acréscimo de custos e uma certa perda de nível de vida. Em diversas sociedades, isso poderá representar um recuo social de décadas. Contudo, perante o panorama geral resultante das alterações climáticas, esse pode bem vir a ser o menor dos males.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Climate change: THE TRIUMPH OF IGNORANCE

For those with an interest on politics and its backstage, the partisan’s life provides a considerable quantity of criticism, analyses, commentaries and defamations; however, the sheer amount of attention given to today’s intricate scenarios, as well as its characters, prevents us from seeing one of our most significant realities: the imminence of enormous and consecutive catastrophes posed by progressive climate change.

A large majority of the population considered cultured or instructed has but a pale idea of the realities we are about to face, should we not take preemptive measures in time. And among those living in underdeveloped countries and with little to no schooling, unarguably still a majority in every continent, the unawareness as to every global problem is such that they are unable to view that it will be them, with high probability, those who will most quickly and considerably suffer the consequences that lie ahead, either as a result of poverty or negligence.

As for the most developed countries, including ours, the environmental and climate matters have been widely talked about, occasionally being reduced to a mere political or intellectual fashion, or even an agenda for the media; and yet, in spite of its popularity, the subject has been largely underestimated.

There is a vague notion that climate change will mostly impact remote areas, at least in the short term, and that the more developed regions will find the necessary means to gradually adapt to its effects.  Perhaps they will be found, but there is no guarantee. Regardless, immense changes in their territories and economies are inevitable, with this being a phenomenon which greatly transcends the sphere of common politics and its more transient effects.

It’s not simply about tackling air pollution and the accumulation of garbage in all oceans, or delaying the rhythm of sea level rise, or moderating the mass extinction of species occurring nowadays.

What is truly happening is something far larger in scale – and worse. There is no appropriate frame to represent the huge threats to which we are exposed and its biological and civilizational consequences. Even the term “catastrophe” may prove insufficient to express this danger, should we conceive the status of deprivation and widespread chaos which may come as a result of climate-related devastation. We may be used to deal with catastrophes of various kinds, but nothing has yet prepared us for what is to come: sudden and significant transformations in our environment, which we shall not be ready to face, even considering the scientific and technological advancements at our disposal.

One of the current misconceptions in public opinion and in the planning of many leaders is the belief that climate change is a slow and gradual shift; unfortunately, this is not so.

Climate change started out as a slow process when its causes were still fairly moderate. But these causes have expanded quite a lot and several others have joined them in the meantime, so that their effects are progressively growing and acquiring an increasing pace. In other words, catastrophes of several kinds (droughts, wildfires, storms, floods, plagues, epidemics) occur with increasing intensity, as well as gradually briefer gaps in between.

This increasing intensity and frequency are just two of the aspects that are implicit in the concept of “exponential growth”, a mathematical notion which many are using nowadays (including journalists) without knowing exactly what it means. An exponential phenomenon is not just a phenomenon whose effects are increasing and accumulating, it’s above all a phenomenon whose effects are multiplying. In other words: it’s constantly accelerating, as is currently the case with global warming and rising sea levels.

It is essential to understand this point: when a phenomenon becomes exponential, it’s no longer slow and it’s no longer gradual. It does not occur at a constant rate, but at a progressively increasing one. In what comes to phenomena that give rise to natural disasters, these will be ever more extensive, frequent and destructive, quickly seeming to exceed the limits of all human predictability and of our collective capacity to halt them. And everything becomes even worse when the effects of a phenomenon add to its causes, creating a vicious circle, thus increasing its dangers and complexity. And this is exactly the situation in which we are now: we are plunged in a spiral of climatic events whose outcome is uncertain, but certainly tragic. What awaits us henceforth is perhaps more than a mere succession of catastrophes, it may turn out to be (at least due to the accumulation of its consequences) a true global cataclysm, given that we will witness a drastic modification of a large part of Earth's surface, of its natural habitats and their living conditions, and also of the livelihoods of their respective populations. And we don't know how quickly that may happen, nor at what pace we'll be able to adapt.

But, some may say, with all the scientific tools we have at our disposal, isn’t our forecasting capacity able to draw fairly realistic scenarios for the future? No, it isn't, far from it.

No need to look much for blunt evidence. When, in 1997, politicians and scientists from all over the world elaborated and signed the historic Kyoto Protocol, aiming to fight global warming, they were based on measurable phenomena and trends, that is, on analyzes compatible with the data and instruments existing at that time. There were some optimistic forecasts and others of a more pessimistic nature, but the agreements were made assuming an average scenario, discarding the most extreme anticipations on both sides of the range of hypotheses. However, twenty years later, it was inevitable to come to the conclusion that the most pessimistic forecasts were resoundingly surpassed by the facts – and by a wide margin. In other words: not even the most alarmist specialists were able to anticipate what actually happened. And this is dangerous, far too dangerous. It reveals, first of all, that our cutting-edge knowledge was not (and probably still is not) up to assessing the full dimension of the climate trouble we are in. The livelihood or even the survival of a large part of human population could be at risk in the future – and we are not even fully aware of this yet, nor of the serious conflicts that may arise as a result of the possible scarcity of resources.

“Eeeh, enough with the alarmism”, some will say. “We will certainly continue to do whatever is necessary to avoid the worst scenarios. Let’s not lay down our arms and everything will be solved, better or worse, whatever the means needed”… Indeed, this optimistic voluntarism may be a desirable state of mind; yet, when it comes to facing the threats, and from a scale perspective, maybe it's not much more than that. In fact, when considering what’s necessary, it’s little more than nothing. We’re running the risk of turning our planet largely uninhabitable in just a few decades, and no positive thinking will be able to prevent it. We will need much more than that.

Tragically, we have allowed things get to a point where prudence and goodwill are no longer enough. Instead, what is needed now is to sound all alarms, even though still remains, in academic contexts, a certain aversion to “climate alarmism” as a condition of scientific credibility. But as an old proverb says, it’s before the house being robbed that we must lock the door; and I fear, in this case, not even that shall suffice anymore. In order to tackle the potential threats and their terrible repercussions, we’ll need more than political commitment and large financial means; we’ll need several and substantial scientific advances, along with a large amount of technology that is not yet available or even conceived.

The erroneous notions that were spread about the pace of climate change and its effects, supposedly at the rate of a given value per year or per decade, have given us an artificial and misleading tranquility about the time we have left to fix things and how urgently we need to do it. Perhaps everything would have gone differently if scientists and the media had tried more persistently to make us understand what, deep inside, we all know: natural phenomena don’t always occur gradually and are sometimes subject to major discontinuities, sudden alterations in rhythm or intensity and interferences that can attenuate or aggravate what we believe to be predictable. Yes, we know it: what starts as something gradual (or apparently so) may come to cause huge and sudden changes, some of them foreseeable, some quite unexpected. But when we consider them remote or hypothetical, we generally prefer not to worry too much. This is an old self-protective tendency of our brains: not to create unnecessary stress. However, in this particular case, the shot can backfire on us.

We all have seen images of ice floes crashing down in icebergs and glaciers or avalanches sliding on snow-capped mountains. Before such a phenomenon could happen, there might have been a slow erosion process, yet the outcome is quick. In the case of ice, after the crash it will likely melt in a relatively short time, which we may consider insignificant when compared with the time needed for its erosion. There are reports of gigantic icebergs that completely melted in a few days or weeks. In fact, there is no way around the laws of physics: under natural conditions, when surrounding temperature reaches or approaches zero degrees, ice begins to melt; and the bigger the surface being exposed to higher temperatures, the more rapidly it will melt; and the less compact or the more cracked ice is as a result of earlier erosions, the easier it breaks and the faster it melts; and the more intense the heat wave, the less time ice shall resist.

This means that, if occur abnormal temperature rises in atmosphere or in oceans’ currents, large ice masses may melt in a short time lapse, at a far more significant pace than we have known within the last quarter of century. Since 1992 to the present day, Antarctica and Greenland, which have the two largest ice mantels on the planet, have already lost above seven trillion tons of ice and this loss has resulted in a global sea level rise surpassing two centimeters. However, such a seemingly small change gives us but a modest notion of what that may imply in terms of erosion and coastal floods, and by no means provides a safe yardstick for assessing what may happen in the present decade and the following ones, because the melting of the great ice masses is now in constant acceleration and obvious expansion. NASA satellites have detected in 2012 that the surface on which the melting of Greenland’s icy sheet was evident had surpassed the usual 40% during summer months to a staggering 97% in just a few days, due to a heat wave in the atmosphere. Scientists were forced to conclude that the repetition of such phenomena could eventually lead to a quick and utter meltdown. This is cause for alarm: if the entire Greenland ice mantle, which covers approximately 80% of its territory, melted completely, that would raise sea levels by more than seven meters. But not going so far, if only one-seventh of that huge icy mass were to melt, then the sea level rise would correspond to around a meter, enough to flood most of the world's coastal cities and to cause the loss of large portions of shoreside territories in every continent, as well as the disappearance of countless islands. To think that this may only occur gradually in the range of many decades is a naïve and dangerous assumption, and so is considering the partial melting of Greenland as an isolated phenomenon, forgetting the contribution of simultaneous melting in other frozen masses on the planet.

Some climate studies suggest that the Arctic may run out of ice up until 2035, as a result of rising temperatures in the region. One of the most feared consequences is the melting of the so-called “permafrost”, a vast expanse of soil which remains frozen through the entire year and covers 25% of the land surface in Northern Hemisphere, mostly in Canada, Greenland and Russia, but also in Norway and Alaska. This frozen surface contains carbon dioxide, methane and toxic mercury, while also being a reservoir of viruses and bacteria with which recent humanity has never had any contact and against which it most likely has no immunity.

The “permafrost” is composed by a mixture of permanently frozen land, ice and rocks, constituting a layer that is covered by another layer of ice and snow which can reach a depth of 200 meters in some places during winter, but melts afterwards progressively with the rising temperatures and becomes reduced to a thickness of mere 0.5 to 2 meters upon melting (therefore turning the soil’s surface swampy, since the waters at the surface are not absorbed by the frozen soil, a fact that diminishes its capacity for solar reflection). This frozen soil is rich in organic substances which slowly decompose; but when ”permafrost” melts, bacteria and fungi are able to decompose the carbon contained in that organic matter far more quickly, releasing it into the atmosphere as carbon dioxide or methane, both gases responsible for the greenhouse effect. And experts describe a vicious cycle: the gases released from the “permafrost” accelerate global warming, which in turn hastens the melting of the “permafrost”. In day-to-day language, it’s a “snowball effect”.

According to another recent study, the “permafrost” in the Northern Hemisphere alone contains more than twice the amount of carbon already existing in the atmosphere, and a fast thaw may contribute immensely to global climate change. The amount of carbon dioxide and methane which it may send to the atmosphere depends on the rhythm of its melting, but there is large evidence that successive abnormally warm summers are speeding up the melting process considerably and drastically thinning out the upper layers of enormous subterraneous ice blocks, which have been frozen solid for millennia. In vast swaths of icy territory, it may take some time until defrost temperature has been reached; but, once reached, defrost itself will be a quick process – and one could even say abrupt, because it does not fit in our notion of something progressive or gradual.

Let’s imagine a sea ice block with an initial temperature of -25ºC. If the surrounding temperature rises or oscillates, for a long time nothing seems to happen until the melting point is reached, which in the case of sea ice is roughly -2ºC (a little lower than for “pure” ice, due to the quantity of dissolved salts, which render it even more vulnerable). But when the melting point is reached, regardless of how much time may have passed or how many thermal fluctuations may have occurred, the ice actually thaws and the higher the surrounding temperature is, the more quickly ice will melt. In fact, we know from experience and from laws of physics that other changes in the state of matter also work in a more or less abrupt way: when we leave a kettle of water to boil, we need to wait for some time until the temperature has risen enough; and the heating may seem to us slow and gradual, yet as soon as it reaches 100ºC the water immediately starts to boil and evaporate; and no matter what we do, we are unable to bring the steam back into the kettle... This may be simple to understand, but under natural conditions things are a little more complex and therefore less predictable.

The fact that “permafrost” is composed of different materials, with different freezing points and different cohesion degrees, may turn it more vulnerable to breakdown and cracking than large homogeneous ice masses, greatly increasing the extent of its exposure and thus the potential of erosion, with this, in turn, causing the melting process to be much faster than initially expected. In general, the more rugged the relief is and the more rifts it contains, the more vulnerable to defrosting it will be – and that evolution is taking place at an alarming rate, in a large area of the Arctic region. Paradoxically, instead of worrying about this and other related phenomena, many political leaders in the region are just attempting to discover how to take advantage of the Artic melting to benefit commercial shipping and the creation of new ports, without understanding the extent of the threat or the real scope of the problem.

Something is changing fast and the real magnitude of the consequences is still unpredictable. The influx into the oceans of abnormal amounts of water resulting from the increasingly intense summer defrost not only raises the sea level and the impact of tides, but also increases the destructive potential of these ones and of coastal storms, not to mention possible tsunamis, which harass with irregular frequency some regions of the planet. On the other hand, it is quite likely that this considerable influx of water into the oceans may cause shifts in temperature and path of ocean currents, thus causing strong impacts on various regional climates, affecting their biodiversity and their economy. Truly dramatic consequences could occur in just a few years. Events and transformations that for a long time seemed to happen only in a gradual way can suddenly rush and completely subvert any previous calculations and expectations.

The quick melting of “permafrost”, for example, poses a considerable sanitary threat. Many experts believe that in those frozen soils may be trapped viruses and bacteria associated to past diseases, some of them entirely unknown, others supposedly extinct. The probability of a lethal pandemic arising is not to be ignored, even considering the current means of medicine. Humanity is still living the disruptive effects of a relatively benign pandemic, whose average mortality rate is only about 2% of known unvaccinated infected (if we consider the real number of infected people, including those asymptomatic or undiagnosed, the mortality rate is even lower). But not too far back in time, the fourteenth-century Black Plague is known to have wiped out over a half of the European population, which by then was much more dispersed and rural than it is now. We can imagine what could happen nowadays with any equally deadly microorganism, or even less mortiferous, should it be spread amongst modern urban crowds with their high population density, also considering the ease and speed of the transportation means of today.

The displacement of climate zones or the persistent alteration of their usual temperature and pluviosity patterns may also have repercussions beyond expectations. Traditional agriculture for self-sustainment may be rendered unviable, much of both fauna and flora of each affected region may not be able to survive the changes, entire ecosystems may be destroyed, economic sectors may be prone to significant decreases and constrictions, scarcity of food and other essentials may become the norm, several sources of income may be extinguished, civil wars and urban turmoil may break out, transmissible diseases of various sorts and latitudes could find new areas on which to propagate themselves. It should be noted that all these scenarios are of high probability, rather than a simple product of imagination.

And with an aggravating factor: global warming will not be evenly distributed across the planet, contrary to what many tend to believe. We’ll be witnessing, more and more frequently, an intensification of extreme weather phenomena, including great waves of intense heat or freezing cold, some of them in regions where they were not at all usual or even expectable. Recent events show that both torrid heat and polar cold may in the future appear where least expected, due to drastic changes in atmospheric currents, and flooding rains may fall in places that used to have moderate rainfall. In fact, we are already getting used to suffocating heat waves in northern countries, to large forest fires in USA, Canada, Sweden and Siberia, and the Mediterranean area is chronically becoming a great summer hell.

 Initially, it was thought that regions which were already hot would tend to become hotter and normally cold regions could become even colder, but this prediction proved to be partially wrong, as extremes of temperature and rainfall now seem to escape all logic and all forecasting models, appearing almost anywhere without warning. Diluvial rains have recently fallen in such disparate places as Germany and neighboring countries, Turkey, China, Japan, Nigeria, the Philippines, and in recent years have also fallen on India, Bangladesh, Iran, Indonesia, Mozambique and South Africa, among other places. Climate appears out of control almost everywhere and, in line with this global trend, areas that were once temperate may be ceasing to be so very soon. Seasons themselves are breaking out of the usual patterns, either in sequence or in length, and in some regions they are becoming unrecognizable. It goes without saying how much all this can affect countless economic activities in each country (including the destruction of soils and crops), damage buildings and infrastructures or hinder geographic mobility, one of the fundamental components of modern life.

What we have been able to observe in recent years leads to two inevitable conclusions: while for a long time we feared mostly a gradual sea level rise and its possible effects upon coastal areas, we are now faced with the more immediate and equally destructive threat posed by diluvial rains and floods of biblical proportions, which may occur suddenly and almost anywhere, even right in the interior of continents; and although many analysts and leaders conceived scenarios predicting relatively moderate increases in global average temperature over the next few decades, we are in fact facing large disparities in the worsening of average local temperatures, which in some parts of the world is being much more intense and faster than initially thought, and we become astonished by the appearance of infernal heat waves in the most unlikely regions, which make us put into question, by their consequences, even the theoretical boundaries of the most pessimistic scenarios. The Arctic, for instance, is warming up thrice as quickly as the rest of the planet and its winters are getting warmer, thereby hampering ice formation, whereas in the rest of the year forest fires are becoming more frequent and intense, while the extent of the defrost is becoming continually wider.

The average temperature of Earth has risen by about 1°C from the pre-industrial era to the turn of the millennium, and from then onwards until the end of the present decade it will have worsened by another 0.5°C, reaching twenty years ahead of schedule the 1.5°C limit that the 2015 Paris Agreement had proposed as a target for participating countries. This means, in approximate terms, that global warming’s rhythm has tripled since the already obsolete Kyoto Protocol of 1997. Despite all the political rhetoric and the amount of good intentions that has been announced, the truth is that more than half of the carbon dioxide released into the atmosphere by burning fossil fuels was emitted only in the last three decades. And instead of decreasing, as would be supposed by the application of restrictive policies, from 1990 to 2020 the annual global emissions of greenhouse gases grew 41% and are still increasing with each passing year. This clearly shows that the great imminent threats are still not taken seriously enough, despite all the mediatic and ideological outcry.

Meanwhile, obedient only to natural laws and unmindful of diplomatic efforts, our planet keeps on warming up. And as a result of the uneven distribution of average temperature rise, some parts of the world are heating much faster than others. Soon, many of them will become uninhabitable or suffer severe blows to their traditional livelihoods. The consequences are hardly predictable in their magnitude, but one of them is certain: the emergence of increasing waves of climate refugees, in search of survival or a better life, fleeing from intense heat, desertification, floods, famine or violence generated by the scarcity of resources. Up until the midst of our century, it could be hundreds of millions. It remains to be seen which countries will be able and willing to welcome them, in a world full of ethnic and identity conflicts and where migration is already one of the most important factors of civil conflict (and even, in some cases, diplomatic or military). Racial and ethnic mixtures, cultural and religious clashes, linguistic divisions and everyday customs, as well as the notorious difficulties in the full integration of immigrants (who, in many cases, do not want to be assimilated) are bringing countless societies to the boil. A considerable increase in migratory pressure, even if triggered by situations of humanitarian crisis, does not bode well. Besides having to face the unrestrained violence of the climate change, everything suggests that we’ll also have decades of social upheaval and the proliferation of civil unrest ahead of us. As popular wisdom says, a tragedy never comes alone.