Quando circunscrevemos esta
compreensão sistémica a uma dada fauna ou região, chamamos-lhe “ecossistema”. E
nas últimas décadas, os cientistas têm estudado separadamente muitos ecossistemas
nos mais variados lugares do mundo. O que ainda não percebemos bem, segundo
parece, é que o nosso próprio planeta é, todo ele, um vasto ecossistema. Quando
danificamos uma das suas partes, afetamos as restantes. Um dia, a extensão dos
danos pode ser tal que consertá-los esteja já fora do nosso alcance. O grande e
verdadeiro enigma do nosso tempo é se esse dia já chegou.
Será bom termos sempre presente que,
nos últimos 50 anos de angústias climáticas e de debates acalorados em torno do
assunto, os otimistas quase nunca tiveram razão. Será de esperar que a tenham
desta vez? No passado,
fomos lentos a perceber a velocidade das mudanças climáticas; agora, e em
sentido inverso, estamos a ser lentos a perceber a velocidade com que
precisamos descobrir a tecnologia necessária para combatê-las. Muito
sofrimento e enorme destruição irão acontecer por causa disso.
Coloquemos uma questão pessoal: já
alguma vez pensou que possamos ter chegado, ou que estejamos prestes a chegar,
a um ponto de não retorno? Que, transposto um certo limiar de interferências
artificiais no ecossistema terrestre, possamos desencadear uma desordem
climática e biológica de tal magnitude que pouco mais possamos fazer depois
senão assistir, desnorteados e quase impotentes, às suas consequências devastadoras?
Pode já ser esse o caso, ou não. Não sabemos realmente. Mas se continuarmos a
contar otimisticamente com hipotética tecnologia futura para encontrar uma
saída para o desastre ambiental que nos espera ao virar da esquina, não sobram
dúvidas de que seremos apanhados desprevenidos e com as calças na mão. Será
melhor acelerarmos bastante o passo, e quanto antes… O otimismo, neste caso,
joga contra nós.
Outro fenómeno que não tem ajudado muito no combate às
alterações climáticas é o facto de este assunto ter sido contaminado pela
segmentação ideológica que tomou conta da política contemporânea.
Algumas correntes políticas,
sobretudo as que são vulgarmente apelidadas de “esquerda”, apropriaram-se
destas temáticas como se as questões do clima e do ambiente fossem causas
especificamente suas. Isto aconteceu durante demasiado tempo, perante a
relativa passividade das outras forças políticas. Quando estas finalmente
despertaram para o impacto de tais assuntos na opinião pública, algumas
fizeram-no da pior forma: em vez de reivindicarem as preocupações climáticas e
ambientais como uma causa comum e transversal a toda a divisão partidária, ou
até mesmo pairando acima dela, resolveram adotar uma atitude hostil e
tornaram-se negacionistas, sobretudo entre a chamada “direita radical”.
Em que consiste o negacionismo?
Ele manifesta-se sob duas formas: uma delas nega pura e simplesmente que esteja
a ocorrer um aquecimento global do
planeta, vendo nessa ideia uma mera conspiração alimentada por interesses obscuros
e iníquos; a outra, embora admitindo que esse aquecimento global possa estar a
acontecer, nega que ele resulte da ação humana e das suas interferências nos
ciclos da natureza e nos equilíbrios ecológicos (ou seja, defende a tese de que
as alterações climáticas resultam de causas puramente naturais e nada têm a ver
com as atividades humanas).
Quem pode ter razão nestas
querelas?
É bem possível, e até provável,
que haja também causas puramente naturais a influenciar as mudanças do
clima, embora ainda não esteja muito claro quais elas sejam. Afinal de contas,
o clima na Terra não foi sempre estável antes do aparecimento da espécie
humana. Houve alterações amplas na temperatura média do planeta, houve subidas
e descidas do nível dos mares, houve mudanças dramáticas na meteorologia e na
biosfera dos continentes. Ninguém pode seriamente acreditar que toda essa
mutabilidade global tivesse a certa altura desembocado numa tendência fixa para
a estabilidade climática, apenas perturbável pela ação humana recente. Mas por
outro lado, tendo em consideração toda a evidência entretanto acumulada, é
inegável que o impacto humano na Terra está a contribuir decisivamente para a
intensidade e o ritmo das alterações climáticas atuais. Têm sido de tal ordem as transformações impostas
ao planeta que elas têm afetado praticamente todos os ecossistemas e todos os
ciclos naturais. Como poderia não haver graves repercussões nos diversos
climas?
Esta não é uma questão
ideológica, é uma questão factual. Não são teorias, são factos incontestáveis
que revelam a grandeza e as repercussões das alterações em curso. As possíveis
consequências delas é que poderão desafiar a imaginação. Mas não precisamos
imaginar muito. Os fenómenos meteorológicos extremos que têm ocorrido
ultimamente não só tornaram inegável a mudança climática como nos deram um
prenúncio de como as coisas podem piorar: devastações numa escala sem
precedentes provocadas por tufões, dilúvios, vagas de calor insuportáveis,
cheias, incêndios arrasadores, por vezes com proporções capazes de lançar no
caos países ou regiões inteiras. E numa fase posterior, mas não muito distante
no tempo, capazes de destruir as nossas civilizações atuais, tal como as
conhecemos.
Exagero? Não. No que toca às alterações
climáticas, tudo está a ficar pior e mais depressa do que os cientistas antes previram.
Como corolário lógico, as consequências dessas alterações também podem ser bem
piores do que o previsto.
Travamos uma corrida contra o
tempo, mas muitos dirigentes políticos não se aperceberam ainda da gravidade da
situação. Continuam a pensar na mudança climática como um fenómeno gradual e
anunciam sem pressas energias menos poluentes ou vagas reduções nas emissões de
gases com efeito de estufa. Nenhuma dessas promessas será suficiente, ainda que
todas fossem cumpridas (e muitas delas não o têm sido). Já não bastarão
meras reduções nas emissões poluentes. Dado o ponto a que chegámos, só
poderíamos começar a inverter o processo com novas e eficientes tecnologias de
captura de carbono e soluções de geoengenharia – tecnologias e soluções que
ainda não possuímos.
Não basta reduzirmos as emissões de gases com efeito de
estufa. Mesmo reduzidas, todas essas emissões vão acrescentar-se às que já
permanecem na atmosfera, ou seja, vão agravar a situação atual. Vão ter um
efeito cumulativo. E às novas emissões que fizermos vão também adicionar-se
todas as emissões provocadas indiretamente pelas nossas interferências nos
ciclos naturais e nos ecossistemas. Um ciclo vicioso de causas e
efeitos já está em marcha e, por causa dele, tudo está a acontecer pior e mais
depressa do que foi antes previsto pelos peritos mais pessimistas. Só há
duas conclusões lógicas a tirar: 1ª) não temos até 2050 para atingir a
neutralidade carbónica, sem antes sofrermos consequências devastadoras; 2ª)
necessitamos criar e pôr em prática muito rapidamente tecnologias de captura
de carbono, assim como tirar partido dos processos naturais que possam
contribuir para o mesmo objetivo.
Se não encararmos a sério estes
dois problemas, o nosso futuro vai tornar-se bastante sombrio – e talvez
muito mais rapidamente do que pensávamos.
Como afirma o último relatório
das Nações Unidas sobre este tema, “muitas das mudanças observadas no clima não
têm precedentes em milhares, senão em centenas de milhares de anos, e algumas
das mudanças já em marcha — como a subida continuada do nível do mar — são
irreversíveis ao longo das próximas centenas ou milhares de anos.” Ainda assim,
o mesmo relatório deixa uma mensagem pela positiva: “Contudo, reduções fortes e
sustentadas das emissões de dióxido de carbono e outros gases com efeito de
estufa limitariam as alterações climáticas. Enquanto os benefícios para a
qualidade do ar seriam rápidos, poderia demorar uns 20 a 30 anos para que as
temperaturas globais estabilizassem.” Será,
de facto, assim?
Parece haver nesta aparente
manifestação de otimismo uma certa preocupação de fugir ao alarmismo climático,
talvez precisamente o contrário do que seria necessário nesta fase dos
acontecimentos. A verdade incontornável é que todos os cenários mais
pessimistas daquele e de outros organismos semelhantes foram largamente ultrapassados
pela realidade. Isso revela que tem havido repetidamente erros metodológicos
nas previsões realizadas ou que há causas atuantes no aquecimento global que
não têm sido corretamente avaliadas. Talvez desconheçamos ainda algumas
delas ou a teia intrincada das interações entre elas. Ou talvez se subestime o
carácter exponencial dos fenómenos subjacentes às alterações climáticas. Por
vezes há até conclusões nos relatórios que parecem apenas traduzir a busca de
um meio-termo aceitável entre os diversos cenários propostos pelos
especialistas, uma espécie de consenso razoável que não ponha em causa a sua
credibilidade científica. Mas é impossível não notar algumas incongruências.
Depositar demasiadas esperanças
numa forte redução das emissões poluentes é como apostar tudo num cavalo coxo. As
emissões não têm parado de crescer ano após ano, mas ainda que conseguíssemos
doravante reduzi-las, as novas emissões vão sempre adicionar-se às já
existentes. Portanto, uma redução (mesmo que drástica) das novas emissões não
significa uma redução da quantidade total de gases com efeito de estufa existentes
na atmosfera. Nunca será demais insistir nisto, nem deverá quaisquer haver
enganos ou ilusões quanto a isto. Tudo dependerá, afinal, do saldo positivo ou
negativo que consigamos estabelecer entre o acréscimo do total acumulado de
emissões e a captura de carbono que ocorra por processos naturais e
artificiais. Teremos doravante uma espécie de conta-corrente com a natureza,
mas precisaremos também de colaborar com ela. Porque no fim de contas, para evitar os desastres
previsíveis, nós e a natureza precisaremos em conjunto de capturar mais carbono
do que aquele que é libertado sob as mais diversas formas. Pela nossa
parte, precisaremos não só de facilitar os processos naturais dessa captura de
carbono como também de acrescentar outros criados pela nossa própria
tecnologia, e ambas as coisas com a maior urgência possível. Na verdade, deixou
de ser racional evitar o alarmismo, porque estamos a ficar sem tempo para evitar
o pior.
Foi em 2018 que um organismo
especializado das Nações Unidas publicou um relatório especial em que estimou
que o planeta se encontrava então 1ºC acima dos níveis pré-industriais. Agora, três
anos depois, afirma que já se encontra 1,1ºC acima desses níveis. Basta fazer
as contas: se este ritmo de aquecimento se mantivesse, atingiríamos os 2ºC
ainda antes de 2050, o que já de si seria assustador, pois representa ainda
mais do que o mesmo organismo previra apenas há meia dúzia de anos para o final
do século! Houve, portanto, uma aceleração. Mas o problema adicional é que o ritmo do aquecimento continua
a acelerar, o que significa que todas as projeções feitas com base no ritmo
atual cairão rapidamente por terra. Elas estão perigosamente subestimadas, por
não tomarem em devida conta essa aceleração crescente.
O que implica isto para o mundo
em que vivemos? Haverá certamente “cada vez mais ondas de calor, estações
quentes mais longas e estações frias mais curtas”. Mas se o aquecimento global chegar
aos 2ºC, as ondas de calor extremas atingirão mais frequentemente os limites
críticos de tolerância para a agricultura e a saúde, diz também o último relatório
das Nações Unidas. Isso significa que várias zonas do planeta, espalhadas
pelos diversos continentes e sem poupar nenhum, poderão chegar rapidamente a
temperaturas em que a vida humana se torna impossível, gerando milhões de
refugiados climáticos, muitos deles empobrecidos e desesperados.
No que concerne à subida das
águas do mar, é possível que os especialistas do clima venham a ser novamente
surpreendidos. Se o ritmo do aquecimento global estiver a ser subestimado, por
não estar a ser devidamente contabilizada a sua crescente aceleração, isso
significa que as previsões feitas para 2050 ou para o final do século podem ser
atingidas muito antes. E tudo aponta para que o venham a ser, porque a
situação global continua a deteriorar-se a olhos vistos. Há várias razões para
isso. Eis algumas.
Ao longo das últimas décadas, as
florestas e os oceanos, juntamente com os solos, têm conseguido captar mais de
metade das emissões de dióxido de carbono produzidas pelas atividades humanas,
usando-o em processos naturais (como a fotossíntese, por exemplo, função pela
qual as plantas, as algas e algumas bactérias, em presença da luz solar,
transformam dióxido de carbono e água em matéria orgânica, libertando oxigénio).
Florestas e oceanos atuam, portanto, como “sorvedouros de carbono”, mas a sua
capacidade de absorção tem limites e, pior do que isso, tudo indica que vão
tornar-se cada vez menos eficientes ao longo das próximas décadas, além de que
o aumento das emissões não será acompanhado por um aumento destes
“sorvedouros”. Antes pelo contrário. As florestas estão a diminuir a um ritmo
galopante, devido ao desmatamento agressivo e aos grandes incêndios florestais,
abrangendo áreas cada vez mais extensas. Em muitas regiões do planeta, o abate
acelerado de árvores e as queimadas intencionais têm dado lugar a campos
agrícolas e a pastos para a pecuária intensiva. Como agravante, os incêndios e as queimadas
libertam grandes quantidades de carbono para a atmosfera, o que atua em
contracorrente com os esforços de redução das emissões industriais. Nos
oceanos, assiste-se a uma rarefação do fitoplâncton, um conjunto variado de
micro-organismos capazes de fotossíntese que vivem flutuando na superfície das
águas (tais como algas e cianobactérias) e que não só garantem a oxigenação da
água como constituem a base da cadeia alimentar aquática. Essa rarefação está
também a ocorrer em muitos dos grandes rios e lagos, para além do facto de
alguns deles estarem a encolher de tamanho. E a contribuição dos solos também
poderá estar afetada, não apenas devido à erosão e à decomposição aceleradas,
mas também devido à ação dos pesticidas e às práticas de agricultura intensiva.
O aquecimento dos oceanos é, só por si, um problema, já que o dióxido de carbono da atmosfera se dissolve mais facilmente em água fria do que em água quente. Portanto, o aquecimento das águas dificulta o processo. Também as águas superficiais transportadas dos trópicos, agora mais quentes, para as altas latitudes (incluindo as regiões polares) podem acelerar a fusão dos gelos, levando à redução da salinidade das águas superficiais e assim aumentando a estratificação entre estas e as águas das camadas inferiores, o que por sua vez reduz o movimento descendente de dióxido de carbono para o oceano profundo. Uma vez que são as diferenças de temperatura e de salinidade das águas que determinam em certa medida o trajeto das correntes oceânicas, as variações significativas de qualquer destes parâmetros podem alterar as próprias correntes e irão certamente fazê-lo. Ora a circulação oceânica desempenha um papel fundamental na regulação do clima global, já que as suas correntes são grandemente responsáveis pela transferência e redistribuição do calor, evitando que o planeta se torne mais inóspito. Portanto, a alteração dessas correntes pode desencadear mudanças drásticas no grau de habitabilidade de muitas regiões do mundo.
Mas é difícil falar dos oceanos
sem referir uma das maiores tragédias que neles está a ocorrer: a acumulação
de centenas de milhões de toneladas de plásticos, algo com que, segundo
alguns estudos, estamos a provocar danos tais nos ambientes marinhos que talvez
já tenhamos ultrapassado um ponto de não retorno. Não se trata apenas da
poluição causada pelos próprios plásticos, cuja degradação leva dezenas ou
centenas de anos e que em grande parte os vai progressivamente transformando em
detritos mais pequenos, que os investigadores chamam genericamente
“microplásticos” e que, confundindo-se ou misturando-se com o alimento de várias
espécies, acabam por penetrar em muitas cadeias alimentares, incluindo a nossa.
Antes de tal acontecer, estes plásticos vão absorvendo químicos que flutuam
livremente no oceano, tornando-os potencialmente tóxicos. Quando são ingeridos,
tornam-se duplamente nocivos e perigosos: pelos efeitos da própria ingestão do
plástico, muitas vezes letal ou causadora de lesões, e pela acumulação de
produtos contaminantes nas vísceras e músculos dos animais, o que faz com que
se concentrem ao longo da cadeia alimentar. Uma boa parte deles, sem darmos
conta, vai acabar no nosso prato.
Esta acumulação de plásticos nos
rios e nos oceanos tomou tal dimensão em algumas partes do mundo que precisamos
ver para crer: há rios asiáticos de tal modo cheios de detritos que já não se
consegue ver a água, a ponto de quase não nos apercebermos que se trata de um
rio, e nos mares formaram-se ilhas aparentes com dimensão maior que alguns
países. A maior delas é a famosa Ilha de Plástico que se formou no Oceano
Pacífico, entre o Havai e a Califórnia, que já tem cerca de 1,6 milhões de Km2
(uma área total quase três vezes maior que a da França ou 18 vezes a de Portugal!)
e que continua a crescer.
Esta forma de poluição das águas
está a afetar a sobrevivência de muitas espécies, algumas já à beira da
extinção. E não sabemos ainda bem quais os seus potenciais efeitos em todos os
ecossistemas marinhos, embora se adivinhe que seja uma bomba-relógio. Mas do
que se fala menos é do seu potencial impacto nas alterações climáticas, porque ainda
pouco se estudou a influência dos plásticos no aquecimento das águas fluviais e
oceânicas. A analogia pode parecer um pouco simplista, mas é plástico que
usamos para criar estufas em terra, por ele provocar retenção de calor.
Havendo, como há, áreas descomunais de oceano que já têm a sua superfície
completamente recoberta de detritos plásticos de todo o género, não prejudicará
isso os processos térmicos aquáticos e a redistribuição do calor, não será
dramaticamente afetada a fotossíntese e não estará assim posta em causa a
sobrevivência do fitoplâncton nessas vastas áreas, bem como de toda a cadeia
alimentar que depende dele? Eis perguntas ainda sem resposta esclarecedora. Mas
ninguém se surpreenderá se vier a descobrir-se que a poluição das águas pelos
plásticos está a contribuir significativamente para o aquecimento dos oceanos.
Uma das consequências desse
aquecimento é o seu efeito pernicioso ou destrutivo sobre os recifes de coral
em todo o mundo. Muitos corais estão a morrer em diversas latitudes, a um ritmo
acelerado. Compreendemos facilmente a importância disso se pensarmos que uma
em cada quatro espécies marinhas vive nos recifes de corais, incluindo cerca de
2/3 das espécies de peixe, que neles encontram abrigo, alimento e locais
protegidos para a reprodução. Um dos sintomas mais óbvios do definhamento dos
corais é o seu progressivo branqueamento, que traduz uma perda de interação
biológica com as algas que com eles vivem em associação e que está também relacionado
com o aumento de doenças nos próprios corais.
Complicando ainda mais a
situação, está a ocorrer um fenómeno de acidificação dos oceanos. Isto
acontece devido à grande quantidade de CO2 atmosférico, que em parte se
dissolve na água, formando ácido carbónico, um composto muito instável que ao
dissociar-se torna a água mais ácida. A acidificação tem um impacto negativo direto
nas estruturas dos corais, cujos esqueletos são de natureza calcária, tornando-as
mais frágeis e sujeitas a serem diluídas. Escusado será dizer que o
definhamento e a morte dos corais, pelos seus impactos nos respetivos
ecossistemas, poderão ter como resultado a diminuição drástica da quantidade de
peixe nas zonas afetadas, com consequências dramáticas nas cadeias alimentares
e nas pescas. Se as tempestades, as secas e a desertificação representam um
risco crescente para a produção agrícola, a obtenção de alimento no mar também
poderá vir a conhecer piores dias do que a crescente escassez que já hoje se
faz sentir.
Escassez é sinónimo de carestia ou fome.
Para as populações que extraem a sua alimentação e o seu rendimento básico
diretamente da terra ou do mar, o futuro é incerto. Algumas poderão tirar
partido da escassez e da carestia, outras poderão ser suas vítimas. De entre
estas, algumas poderão conhecer surtos de fome e subnutrição. Mas para o grosso
dos indivíduos e das famílias em quase todas as sociedades, a menor abundância na produção
ou as perturbações na distribuição de bens alimentares representarão um
acréscimo de custos e uma certa perda de nível de vida. Em diversas sociedades,
isso poderá representar um recuo social de décadas. Contudo, perante o panorama geral
resultante das alterações climáticas, esse pode bem vir a ser o menor dos males.
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