domingo, 22 de março de 2020

Dois pesos, duas medidas...?


Por favor, alguém me explica por que estamos a repatriar os turistas por motivos de saúde pública, mas não os migrantes ilegais?

Se agora enxotamos com poucas cerimónias os estrangeiros que ainda teimam em vir para cá passar apenas alguns dias de férias, por serem reconhecidamente um factor de risco nesta pandemia, por que não os que vieram irregularmente com intenções de ficar de vez?

Por que é que uns são recambiados e aos outros se faz vista grossa?

Se até os turistas e estudantes universitários que vêm dos países mais desenvolvidos do mundo são nesta altura encarados como possível vector de contágio, os migrantes que vieram de países subdesenvolvidos e com fracos hábitos de higiene são inócuos?

Por que barramos a entrada àqueles que pretendem entrar pelos portões da frente, mas não àqueles que continuam a chegar pela porta do cavalo?

Os viajantes maioritariamente civilizados que vêm de países com hábitos de solidariedade cívica semelhantes ou melhores que os nossos devem partir, mas os aventureiros ou delinquentes ou clandestinos que vêm das regiões do mundo onde imperam o caos e a bagunça podem ficar?

Os turistas e os estudantes de intercâmbio vêm contaminar-nos, mas os imigrantes ilegais vêm ajudar a nossa economia?

Neste momento até os estrangeiros que provêm de culturas onde está enraizado um espírito de disciplina individual e colectiva que nós apenas podemos invejar, como japoneses ou coreanos, são considerados indesejáveis, só por virem de fora, mas africanos e latino-americanos, “grosso modo” sobejamente conhecidos pela sua endémica indisciplina pessoal e cívica, são benvindos e toleráveis, só porque os consideramos culturalmente mais “próximos” de nós?

Parece-me que há aqui uma espécie de “racismo” ao contrário, agora que é legítimo falar de racismo para tudo.
Parece-me que há aqui uma xenofobia selectiva, que está a afinar pelo diapasão errado e que resolve tomar por alvo apenas os turistas e os nómadas universitários, quando não deveriam ser só eles os visados.

Estamos a assistir em crescendo a uma grande purga profiláctica, porque é de uma purga que se trata, tornada necessária pela calamitosa situação actual e que vai inviabilizar duradouramente o turismo, mas por que são poupados todos aqueles que por cá andam sem autorização de residência e sem visto válido?

Algumas destas perguntas são muito inconvenientes, mas é decerto uma boa altura para procurar as respostas. E a pertinência delas irá aumentando com a rápida e previsível progressão das infecções e dos óbitos, à medida que se for percebendo quem são os grupos étnicos mais propensos a desrespeitar a quarentena e as regras de higiene e contenção impostas.
Chegará inevitavelmente a altura de se cogitar o seguinte: quem circula por aí que nem sequer devia cá estar? E por que é que as autoridades, mesmo numa circunstância dramática como esta, não fazem cumprir as leis da imigração? E de que recursos estão a viver os residentes ilegais, com a actividade económica semi-paralisada como está? Muitos cidadãos gostariam de saber.

Haverá alguém com coragem para levantar tais questões na imprensa, nas televisões, na Assembleia da República?

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