sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Um país em declínio

Ainda não repararam? Somos um país em declínio… e não, não é só de agora…          

Até há pouco tempo atrás poderíamos não pensar assim, por só prestarmos atenção aos indicadores errados ou por desvalorizarmos as verdades inconvenientes.

Olhando para a evolução titubeante do PIB desde o início do século, poderíamos dizer que crescia muito devagarinho, mas sempre era melhor do que nada. Havendo algum crescimento económico, apesar de ser a uma taxa modesta e nada empolgante, isso era sinal de algum progresso, lento mas gradual. Agora, com os efeitos da pandemia, até sem isso ficámos. Espera-nos um recuo sem precedentes desde o fim da última guerra mundial, do qual é arriscado tentar sequer prever quanto tempo será necessário para o anular e voltar ao ponto em que estávamos.

Anteriormente, víamos as coisas a parecer melhorar nalguns aspectos: pregava-se o fim da austeridade, havia crescimento das exportações e dinamismo imobiliário, acumulação de êxitos desportivos e de prémios turísticos. Havia até algum novo-riquismo despreocupado e ostentatório, gerado pelo afluxo súbito das receitas do turismo e outras conexas. Tudo isso, por agora, perdeu fôlego e foi parar à prateleira das memórias recentes. Não se sabe quando voltará.

Mas havia outros sinais para observar por quem tinha olhos bem atentos. E esses continuam.

O PIB per capita em 2019 foi menor do que em 2018 e ambos foram inferiores ao de 2008. Ou seja: o rendimento médio por habitante caiu desde então e, não obstante alguns altos e baixos, estamos de novo em tendência descendente. Já o estávamos antes da pandemia, isso que fique claro.

O salário mínimo duplicou desde o ano 2000, mas o salário médio cresceu pouco mais de metade. Isto significa que o salário médio está cada vez menos distante do salário mínimo e que a classe média está a encolher. As desigualdades acentuam-se, portanto, e a maioria está a empobrecer em termos relativos.

A evolução demográfica é negativa em muitos aspectos. O número total de residentes no país tem vindo a diminuir, o que só por si não é preocupante. Mas houve um declínio progressivo da população nativa na última década, com um saldo natural negativo (mais óbitos do que nascimentos) e um aumento acentuado da idade média dos portugueses (o tal “envelhecimento da população” de que tanto se fala, mas que não se consegue contrariar). Esse saldo natural negativo nem sequer tem sido compensado pela invasão massiva de imigrantes, na sua maioria terceiro-mundistas e trazendo consigo o correspondente nível de mentalidades e comportamentos, bem abaixo do nosso nível médio de civismo e de escolaridade. A tendência recente para uma maior percentagem de imigração qualificada ainda não tem expressão muito relevante, excepto pela pressão em baixa que já exerce sobre os salários de profissões que até há alguns anos ainda não se ressentiam dela. O número de jovens diminuiu drasticamente, assim como a população em idade activa (que diminuiu ainda mais). O número de idosos, esse, subiu imenso. A isto junte-se ainda a crescente assimetria do povoamento: a área metropolitana de Lisboa é a única zona do país onde a população residente aumentou, em todas as outras encolheu. E as assimetrias regionais de população activa poderão ser ainda maiores.

Graças ao descontrolo migratório e às políticas de incentivo, o número de imigrantes e de naturalizados não pára de crescer, ano após ano. Muitos devotos da imigração e do multiculturalismo vêem isto como um fenómeno positivo, mas os perigos são óbvios. A ritmo bastante acelerado, o país vai perdendo a sua homogeneidade étnica, religiosa e até linguística, e também a sua identidade histórica ou o que restava dela. A par das meras diferenças inócuas, passam a coexistir cada vez mais crenças, costumes e valores incompatíveis. A conflitualidade racial, antes inexistente, vai subindo em flecha. Em breve chegará a vez da conflitualidade religiosa. Paulatinamente, a tolerância recíproca que era habitual no país vai dando lugar ao ressentimento ou a múltiplos ódios, à medida que padrões de comportamento exógenos ou hostis se vão tornando invasivos.

As estatísticas revelam um rápido aumento generalizado das taxas de criminalidade e delinquência, embora até aqui tenha havido algum êxito em conter o número de homicídios e sequestros. Mas o prognóstico é reservado: com a falta de meios policiais e a legislação penal frouxa que temos, ninguém está optimista com o que virá a seguir. E a falta de confiança na justiça é tal que, em muitos casos e situações, as pessoas desistem de apresentar queixa ou têm medo de o fazer.

Qual justiça? É cada vez maior a inoperância dos tribunais, que se vão atolando num pântano de formalismos inúteis e de processos por resolver, aumentando estes muito mais rapidamente do que os meios atribuídos à máquina judiciária para lhes fazer face.

Neste caldo de cultura, não há como evitar a crescente impunidade dos incumprimentos contratuais de toda a espécie e em todas as áreas de negócio, incluindo o arrendamento, graças a uma legislação e a uma inércia que beneficiam quem prevarica e penaliza os credores.

O crescimento contínuo da corrupção parece um fenómeno imparável, não obstante alguns processos mediáticos que vão surgindo, atingindo aquela níveis que seriam impensáveis durante o Estado Novo, o que significa que neste aspecto passámos quase meio século a andar para trás. E por razões óbvias, nunca o nível de confiança interpessoal foi tão baixo nem a pressão moral tão ineficaz. A impunidade reina.

Pior do que isso é a quase perda de soberania do Estado nos bairros étnicos, onde a própria polícia já mal consegue entrar sem um grande aparato de homens e viaturas, como se estivesse a penetrar em território inimigo. Há pedaços de Portugal que já parecem enclaves estrangeiros e hostis.

Em não poucas cidades e vilas, enquanto certas zonas urbanas se vão aprimorando, é difícil não notar a existência de outras com sinais de evidente degradação. Em vão se queixam moradores e utentes da proliferação de lixos, imundícies, furtos e desacatos nos subúrbios, onde a falta de higiene progride ao mesmo tempo que a falta de segurança. Existem vários países dentro do mesmo país.

No trânsito, vão proliferando os condutores sem carta ou sem seguro, os drogados ou alcoolizados, os infractores crónicos de sinais e de limites, os que confundem as estradas com as pistas, os viciados em gincanas e adrenalina. Circular nas estradas ou atravessá-las é um risco diário para quem precisa de o fazer. A permissividade instalou-se.

Na educação, devido ao facilitismo reinante e à cada vez maior heterogeneidade das turmas, assiste-se a um abaixamento progressivo dos níveis de exigência e a uma degradação da disciplina. Ser professor sem autonomia nem autoridade é cada vez mais uma profissão de risco e uma fonte de frustração, o que explica a crescente dificuldade de recrutamento de docentes e os elevados níveis de absentismo.

Aos adultos jovens que não emigram e não dispõem de bons apoios familiares, o que há para oferecer? Habitação escassa com rendas proibitivas e emprego com precariedade e salários baixos. Enfim, o necessário para que tenham de adiar para as calendas a sua autonomia pessoal ou a possibilidade de começarem o seu próprio núcleo familiar. Não admira que a natalidade dos nativos seja baixa, enquanto prospera a dos imigrantes que encontram na procriação irresponsável e oportunista a via rápida para obterem autorizações de residência, subsídios de subsistência ou a nacionalidade.

Nos apoios da segurança social, grassam sem freio o parasitismo e a subsidiodependência.

O ordenamento do território e a gestão racionalizada dos recursos são conceitos lustrosos com vagas consequências. Na prática, geram muita burocracia, abundantes subsídios e poucos resultados. Mas um deles conhecemo-lo bem: a desertificação do interior vai-se acentuando a olhos vistos, com todas as consequências que isso implica. Porque faltam estratégias, investimentos, empregos, serviços, iniciativas, apoios. A maior parte do país é negligenciada, porque rende menos votos.

Admira, por tudo isto, que vá alastrando o descrédito da democracia e das elites políticas, que se traduz em percentagens crescentes de abstenção eleitoral e de aversão à política, como consequência do descontentamento generalizado e do profundo cepticismo dos eleitores? Há muito que se instalou uma descarada perversão das instituições democráticas, ou assim chamadas, que o público em geral percepciona (e bem) como estando mais ao serviço de interesses partidários ou sectoriais do que vocacionadas para o bem-estar geral da população. Contudo, o regime serve muito bem àqueles que dele se aproveitam, muitos dos quais não singrariam fora dele. Sejamos lúcidos. Não é uma verdadeira democracia o que temos, é uma oligarquia predatória em fase de expansão.

Mas é este o “progresso” que nos vêm prometendo há décadas?  É nisto que se traduz o estafadíssimo chavão de “defender o futuro”? Então resguarde-se quem puder, porque a evolução natural do presente só pode ser para algo ainda pior, se não houver entretanto uma reviravolta política e cultural no país.

Abreviando, precisamos desesperadamente de uma pedrada. O charco já nós temos.

2 comentários:

  1. E essa «pedrada» é o quê? Onde? Como? Quando? E quanto vai custar?

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    1. Perguntas bastante pertinentes, na perpectiva de um gestor... Mas a discussão política em torno das reformas necessárias no país não está ainda nem perto, infelizmente, de se interessar pelas respostas e seus detalhes. No que toca à reforma do Estado, a minha perspectiva é que ele passe a custar muito menos, mas a maioria não está para aí virada.

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