Ainda não repararam? Somos um país em declínio… e não, não é só de agora…
Até há pouco tempo atrás poderíamos não pensar assim, por só
prestarmos atenção aos indicadores errados ou por desvalorizarmos as verdades
inconvenientes.
Olhando para a evolução titubeante do PIB desde o início do
século, poderíamos dizer que crescia muito devagarinho, mas sempre era melhor
do que nada. Havendo algum crescimento económico, apesar de ser a uma taxa
modesta e nada empolgante, isso era sinal de algum progresso, lento mas gradual.
Agora, com os efeitos da pandemia, até sem isso ficámos. Espera-nos um recuo
sem precedentes desde o fim da última guerra mundial, do qual é arriscado tentar
sequer prever quanto tempo será necessário para o anular e voltar ao ponto em
que estávamos.
Anteriormente, víamos as coisas a parecer melhorar nalguns
aspectos: pregava-se o fim da austeridade, havia crescimento das exportações e dinamismo
imobiliário, acumulação de êxitos desportivos e de prémios turísticos. Havia
até algum novo-riquismo despreocupado e ostentatório, gerado pelo afluxo súbito
das receitas do turismo e outras conexas. Tudo isso, por agora, perdeu fôlego e
foi parar à prateleira das memórias recentes. Não se sabe quando voltará.
Mas havia outros sinais para observar por quem tinha olhos
bem atentos. E esses continuam.
O PIB per capita em
2019 foi menor do que em 2018 e ambos foram inferiores ao de 2008. Ou seja: o
rendimento médio por habitante caiu desde então e, não obstante alguns altos e
baixos, estamos de novo em tendência descendente. Já o estávamos antes da
pandemia, isso que fique claro.
O salário mínimo duplicou desde o ano 2000, mas o salário
médio cresceu pouco mais de metade. Isto significa que o salário médio está
cada vez menos distante do salário mínimo e que a classe média está a encolher.
As desigualdades acentuam-se, portanto, e a maioria está a empobrecer em termos
relativos.
A evolução demográfica é negativa em muitos aspectos. O
número total de residentes no país tem vindo a diminuir, o que só por si não é
preocupante. Mas houve um declínio progressivo da população nativa na última
década, com um saldo natural negativo (mais óbitos do que nascimentos) e um
aumento acentuado da idade média dos portugueses (o tal “envelhecimento da
população” de que tanto se fala, mas que não se consegue contrariar). Esse
saldo natural negativo nem sequer tem sido compensado pela invasão massiva de
imigrantes, na sua maioria terceiro-mundistas e trazendo consigo o
correspondente nível de mentalidades e comportamentos, bem abaixo do nosso
nível médio de civismo e de escolaridade. A tendência recente para uma maior
percentagem de imigração qualificada ainda não tem expressão muito relevante,
excepto pela pressão em baixa que já exerce sobre os salários de profissões que
até há alguns anos ainda não se ressentiam dela. O número de jovens diminuiu
drasticamente, assim como a população em idade activa (que diminuiu ainda
mais). O número de idosos, esse, subiu imenso. A isto junte-se ainda a
crescente assimetria do povoamento: a área metropolitana de Lisboa é a única
zona do país onde a população residente aumentou, em todas as outras encolheu.
E as assimetrias regionais de população activa poderão ser ainda maiores.
Graças ao descontrolo migratório e às políticas de incentivo,
o número de imigrantes e de naturalizados não pára de crescer, ano após ano.
Muitos devotos da imigração e do multiculturalismo vêem isto como um fenómeno
positivo, mas os perigos são óbvios. A ritmo bastante acelerado, o país vai
perdendo a sua homogeneidade étnica, religiosa e até linguística, e também a
sua identidade histórica – ou o que restava dela. A par das
meras diferenças inócuas, passam a coexistir cada vez mais crenças, costumes e
valores incompatíveis. A conflitualidade racial, antes inexistente, vai subindo
em flecha. Em breve chegará a vez da conflitualidade religiosa. Paulatinamente,
a tolerância recíproca que era habitual no país vai dando lugar ao
ressentimento ou a múltiplos ódios, à medida que padrões de comportamento
exógenos ou hostis se vão tornando invasivos.
As estatísticas revelam um rápido aumento generalizado das
taxas de criminalidade e delinquência, embora até aqui tenha havido algum êxito
em conter o número de homicídios e sequestros. Mas o prognóstico é reservado: com
a falta de meios policiais e a legislação penal frouxa que temos, ninguém está
optimista com o que virá a seguir. E a falta de confiança na justiça é tal que,
em muitos casos e situações, as pessoas desistem de apresentar queixa ou têm
medo de o fazer.
Qual justiça? É cada vez maior a inoperância dos tribunais,
que se vão atolando num pântano de formalismos inúteis e de processos por
resolver, aumentando estes muito mais rapidamente do que os meios atribuídos à
máquina judiciária para lhes fazer face.
Neste caldo de cultura, não há como evitar a crescente
impunidade dos incumprimentos contratuais de toda a espécie e em todas as áreas
de negócio, incluindo o arrendamento, graças a uma legislação e a uma inércia
que beneficiam quem prevarica e penaliza os credores.
O crescimento contínuo da corrupção parece um fenómeno
imparável, não obstante alguns processos mediáticos que vão surgindo, atingindo
aquela níveis que seriam impensáveis durante o Estado Novo, o que significa que
neste aspecto passámos quase meio século a andar para trás. E por razões
óbvias, nunca o nível de confiança interpessoal foi tão baixo nem a pressão
moral tão ineficaz. A impunidade reina.
Pior do que isso é a quase perda de soberania do Estado nos
bairros étnicos, onde a própria polícia já mal consegue entrar sem um grande
aparato de homens e viaturas, como se estivesse a penetrar em território
inimigo. Há pedaços de Portugal que já parecem enclaves estrangeiros e hostis.
Em não poucas cidades e vilas, enquanto certas zonas urbanas
se vão aprimorando, é difícil não notar a existência de outras com sinais de
evidente degradação. Em vão se queixam moradores e utentes da proliferação de
lixos, imundícies, furtos e desacatos nos subúrbios, onde a falta de higiene
progride ao mesmo tempo que a falta de segurança. Existem vários países dentro
do mesmo país.
No trânsito, vão proliferando os condutores sem carta ou sem
seguro, os drogados ou alcoolizados, os infractores crónicos de sinais e de
limites, os que confundem as estradas com as pistas, os viciados em gincanas e
adrenalina. Circular nas estradas ou atravessá-las é um risco diário para quem
precisa de o fazer. A permissividade instalou-se.
Na educação, devido ao facilitismo reinante e à cada vez
maior heterogeneidade das turmas, assiste-se a um abaixamento progressivo dos
níveis de exigência e a uma degradação da disciplina. Ser professor sem
autonomia nem autoridade é cada vez mais uma profissão de risco e uma fonte de
frustração, o que explica a crescente dificuldade de recrutamento de docentes e
os elevados níveis de absentismo.
Aos adultos jovens que não emigram e não dispõem de bons apoios
familiares, o que há para oferecer? Habitação escassa com rendas proibitivas e
emprego com precariedade e salários baixos. Enfim, o necessário para que tenham
de adiar para as calendas a sua autonomia pessoal ou a possibilidade de
começarem o seu próprio núcleo familiar. Não admira que a natalidade dos nativos
seja baixa, enquanto prospera a dos imigrantes que encontram na procriação
irresponsável e oportunista a via rápida para obterem autorizações de
residência, subsídios de subsistência ou a nacionalidade.
Nos apoios da segurança social, grassam sem freio o
parasitismo e a subsidiodependência.
O ordenamento do território e a gestão racionalizada dos
recursos são conceitos lustrosos com vagas consequências. Na prática, geram
muita burocracia, abundantes subsídios e poucos resultados. Mas um deles conhecemo-lo
bem: a desertificação do interior vai-se acentuando a olhos vistos, com todas
as consequências que isso implica. Porque faltam estratégias, investimentos,
empregos, serviços, iniciativas, apoios. A maior parte do país é negligenciada,
porque rende menos votos.
Admira, por tudo isto, que vá alastrando o descrédito da
democracia e das elites políticas, que se traduz em percentagens crescentes de
abstenção eleitoral e de aversão à política, como consequência do
descontentamento generalizado e do profundo cepticismo dos eleitores? Há muito
que se instalou uma descarada perversão das instituições democráticas, ou assim
chamadas, que o público em geral percepciona (e bem) como estando mais ao
serviço de interesses partidários ou sectoriais do que vocacionadas para o
bem-estar geral da população. Contudo, o regime serve muito bem àqueles que
dele se aproveitam, muitos dos quais não singrariam fora dele. Sejamos
lúcidos. Não é uma verdadeira democracia o que temos, é uma oligarquia
predatória em fase de expansão.
Mas é este o “progresso” que nos vêm prometendo há
décadas? É nisto que se traduz o
estafadíssimo chavão de “defender o futuro”? Então resguarde-se quem puder, porque
a evolução natural do presente só pode ser para algo ainda pior, se não houver entretanto
uma reviravolta política e cultural no país.
Abreviando, precisamos desesperadamente de uma pedrada. O
charco já nós temos.
E essa «pedrada» é o quê? Onde? Como? Quando? E quanto vai custar?
ResponderEliminarPerguntas bastante pertinentes, na perpectiva de um gestor... Mas a discussão política em torno das reformas necessárias no país não está ainda nem perto, infelizmente, de se interessar pelas respostas e seus detalhes. No que toca à reforma do Estado, a minha perspectiva é que ele passe a custar muito menos, mas a maioria não está para aí virada.
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