“Em lugar de falar dos
candidatos, parece-me mais útil aproveitar esta época eleitoral para fazer
sugestões para Lisboa.” (Sim, alguém já o disse antes, tal e qual, daí as aspas.)
Uma delas é a cobertura da Rua
Garrett, da Rua do Carmo e da Rua Nova do Almada com uma grande clarabóia de
vidro, à semelhança da galeria Victor Emanuel, em Milão, tornando o Chiado um
grande centro comercial de lojas tradicionais.
[A sugestão do vidro não é
vinculativa, claro. Poderia ser qualquer outro material com propriedades
semelhantes, mas mais adequado para servir de antídoto ao calor diurno no Verão.
O projecto não iria descaracterizar a zona, antes pelo contrário; iria
valorizá-la e deixaria a actividade comercial desta protegida dos períodos de
chuva.]
Outra poderia ser a transferência
da Feira do Livro para a zona do Rossio, Praça da Figueira e Martim Moniz,
ligando as três praças, e assim dando ao centro um ambiente de festa –
ao mesmo tempo que a Feira beneficiaria da presença de esplanadas e lojas à
volta (abertas à noite) que a tornariam mais atractiva. E o facto de aquela
zona ser abrigada e plana, ao contrário do Parque Eduardo VII, que é inclinado
e ventoso, seria um factor de comodidade para os visitantes.
[Esta ideia admite uma
alternativa. Como a sua deslocação temporal para Maio tornou a feira do Livro
uma feira de primavera, poderia naquela época do ano manter-se onde está. Mas
por que não realizar uma outra Feira do Livro que seja uma feira de outono,
realizada essa em pleno centro da cidade? Com a enorme movimentação de gente
que Lisboa tem actualmente, duas feiras por ano não seriam demais.]
Uma terceira ideia tem a ver com
a difícil ligação ao rio em algumas zonas da cidade. Há uma faixa até Algés que
não tem praticamente contacto com ele, essencialmente porque a linha férrea funciona
como uma barreira de arame farpado que corta o acesso à zona ribeirinha. É o
que acontece, por exemplo, em Belém (onde se situa parte importante da oferta
turística lisboeta) e zonas adjacentes.
Em tempos defendeu-se o
desnivelamento da linha férrea no troço entre o Cais do Sodré e Algés, mas
depois chegou-se à conclusão de que esse investimento não seria rentável para a
companhia ferroviária.
Há, contudo, uma alternativa que
parece ser economicamente mais viável: acabar com o comboio entre o Cais do
Sodré e Algés e prolongar até aqui o Metropolitano, criando uma interface fácil e rápida entre as duas
vias (isto, sublinhe-se, sem aumentar os custos do transporte misto para os
utentes regulares).
Feito isso, e com acesso facilitado ao rio, uma faixa
considerável da cidade iria renascer para o lazer e o turismo, livrando-se do
abandono e da degradação que a perseguem há décadas.
Ideias originais? De modo algum.
Elas foram lançadas, há mais de dez anos, e quase pelas mesmíssimas palavras
(excepto alguns acrescentos meus), por aquele que é um dos mais conhecidos e
lúcidos jornalistas portugueses (conotações e controvérsias à parte) e que é
também, embora nem todos o saibam, arquitecto de formação. Refiro-me a José
António Saraiva, então director do semanário Sol. Trata-se de um homem com
ideias notáveis e que durante muitos anos fez, à sua conta, uma boa parte da
agenda política e mediática do país, com as suas crónicas semanais (primeiro no
Expresso e depois no Sol). Curiosamente, vá-se lá saber
porquê, a discussão em torno destas ideias para Lisboa nunca pegou de estaca.
Agora que estamos de novo em
ambiente de pré-autárquicas, vale a pena relançar o que ele sugeriu então. Sem
ideias preconcebidas.
Para finalizar, resta-me esperar
que o autor das ideias não me processe por plágio. Não foi essa a intenção, juro,
embora em grande parte me tenha limitado a transcrever o que ele escreveu. O
mérito é todo dele, portanto. O seu a seu dono. (E dito isto, espero obviamente
ser perdoado, não obstante a minha enorme avareza nas aspas.)
Ah, já me esquecia: a citação
logo no início também é dele.
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